Um a cada três jovens é vítima de violência virtual (cyberbullying)
Fenômeno social é complexo e deve ser identificado, reconhecido e tratado
bit.ly/3q2J9PW) com recomendações para comunicação on-line. Nela, você encontra tópicos sobre segurança, privacidade e autenticidade nas ferramentas digitais de comunicação. Há ainda uma seção com orientações, apoio e ajuda às vítimas de violência on-line.
De acordo com a Unicef, um em cada três jovens sofreu algum tipo de violência virtual. No Brasil, mais de um terço (ou 36%) dos estudantes faltou à escola após episódios de bullying on-line, o maior índice da pesquisa feita em 30 países. O bullying é um fenômeno antigo, mas passou a ser objeto de pesquisa a partir da década de 1970, quando a sociedade sueca demonstrou preocupação com a violência entre os estudantes e suas consequências no âmbito escolar. O uso da internet e das redes sociais transportou o fenômeno para outros formatos. No entanto, essa forma de violência deve ser identificada, reconhecida e tratada como um problema social complexo e de responsabilidade de todos. O alerta é da Coordenação de Desenvolvimento Estudantil (CDE) do campus Nova Suíça do CEFET-MG. Roberto (nome fictício), aluno do curso técnico em Estradas, entende bem as consequências do bullying perpetrado pelas redes sociais. Usuário do Twitter, ele se viu envolvido em uma situação de violência apenas por usar a rede para compartilhar seus gostos. “Eu comentei no meu perfil sobre uma cantora de que gosto muito. Um infeliz repostou o meu comentário me xingando, dizendo que eu estava passando vergonha na internet, e um grupo de pessoas se achou no direito de compartilhar abertamente comentários negativos ao meu respeito”, relembra. Além de gostos, características físicas são comumente usadas para comentários violentos. Bryan Luiz, estudante de Eletrotécnica do campus Leopoldina, viu uma amiga ser insultada por colegas de turma em um grupo de WhatsApp. “Por ser uma amiga muito próxima, acabei vivenciando esse sofrimento”, explica. “Ela já tinha muitos problemas com autoestima e com seu corpo, então tentei, ao máximo, ajudá-la e confortá-la nesse momento”. Segundo Bryan, as redes sociais têm se tornado espaço de problemas: “Algo que foi criado para nos ajudar, infelizmente, se tornou uma coisa muitas vezes tóxica”. Perfil das vítimas e do agressor Pesquisa recente da TIC Kids Online (Cetic.br/NIC.br) revela que mais meninas do que meninos reportam passar por situações ofensivas na internet e que discriminações mais comuns envolvem racismo e aparência física da vítima. “Mais meninas também têm contato com conteúdos violentos, como formas de machucar a si mesmas, formas de cometer suicídio, formas para ficar muito magras, experiências ou uso de drogas e cenas de violência ou com muito sangue”, aponta Guilherme Alves, gerente de projetos da SaferNet Brasil, entidade criada em 2005, referência nacional no enfrentamento aos crimes e violações aos Direitos Humanos na Internet. A filósofa Vera Cotrim, do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia (DCSF) do CEFET-MG, acredita que a construção desse perfil de vítima reflete a própria sociedade, “que se organiza em torno de hierarquias de poder e desigualdade. Trata-se de uma mimetização das relações de poder que os adultos praticam acriticamente no seu cotidiano, reproduzindo machismo, racismo, admiração pelo rico, pelo poderoso”, opina. Inversamente, o perfil do sujeito que pratica esse tipo de violência indica para pessoas do sexo masculino que, no geral, são brancas e heterossexuais. “Muitos bullies sofreram, eles mesmos, esse tipo de agressão; vários sofrem violências ou descaso/desqualificação em casa, por parte da família. Assim, há histórias pessoais que criam uma condição psíquica frágil, que se manifesta ou pede socorro por meio da violência sobre o outro”, explica Vera. “É importante superar a ideia de que é menos grave o que acontece on-line” A pesquisa TIC Kids Online mostrou ainda que pais, professores e os próprios estudantes tendem a relativizar ou se omitirem diante de condutas agressivas praticadas ou experimentadas nas redes sociais. “São comuns situações de violência que começam nos corredores da escola ou na sala de aula e continuam no virtual, com práticas que envolvem comentários ofensivos, exposição, ridicularização e mesmo exclusão de colegas de espaços de convivência on-line, como grupos de mensagens ou comunidades. É preciso entender ambas as instâncias como igualmente sérias, já que afetam a saúde emocional e física”, pondera Guilherme Alves. Roberto conta que, mesmo sendo algo feito de forma remota, os impactos dos comentários a seu respeito foram reais. “Eu tentei apagar tudo antes que fosse tarde demais, mas já era. A princípio, mandei uma mensagem para o indivíduo que havia começado tudo. Ele me respondeu dizendo que tinha o direito de me achar ridículo e me xingar na internet”, relembra o estudante. “Eu fiquei realmente muito chocado com esse comentário e me entristeceu mais ainda saber que ele quis me ofender e quis que eu ficasse sentido com tudo isso. Depois desse evento, eu desativei minhas redes sociais por um bom tempo e bloqueei pessoas que estavam envolvidas nisso. Fico pensando, com o retorno presencial das aulas, como que eu vou olhar para essas pessoas?”. Quem sofre a violência pode começar a se afastar de pessoas queridas, desenvolver baixa autoestima, depressão, aumento da ansiedade, apresentar baixo rendimento escolar, vivenciar sentimentos persistentes de tristeza e irritação. Os sintomas podem prejudicar a pessoa em longo prazo e, em algumas situações, levar à ideação suicida e a tentativas de autoextermínio. As informações são da Coordenação de Desenvolvimento Estudantil, que, em sua equipe, conta com psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e outros profissionais que podem auxiliar e intervir diante de situações de cyberbullying. Internet não é terra de ninguém! A Coordenação de Desenvolvimento Estudantil (CDE) Nova Suíça do CEFET-MG preparou uma cartilha (“Coordenação de Jornalismo e Conteúdo”