Estudo avalia condições do transporte público como ambiente de trabalho e propõe melhorias
Parceria inédita entre o CEFET-MG e o Ministério Público do Trabalho (MPT-MG) desvendou o impacto do ônibus urbano na saúde da equipe de bordo
“Fale ao motorista somente o indispensável”, mas quem escuta o que é indispensável para o motorista e o cobrador? Quantos de nós sabemos o que se passa com eles? A frase que estampa ônibus de todo o Brasil não deixa dúvidas da necessidade da atenção que o profissional deve ter durante o trabalho, mas põe em xeque quem se preocupa com as principais queixas desses profissionais. Pesquisa desenvolvida em parceria inédita entre o CEFET-MG, por meio do Departamento de Engenharia de Transportes (DET), e o Ministério Público do Trabalho (MPT-MG) em Minas Gerais desvendou o impacto do ônibus urbano na saúde da equipe de bordo.
O estudo, que tem a coordenação-geral do professor Renato Ribeiro e da procuradora do MPT-MG Elaine Nassif e a coordenação adjunta do professor Guilherme Leiva, analisa o ambiente de trabalho do motorista e do cobrador e as consequências para a saúde mental e física e a qualidade de vida desses trabalhadores. Os episódios de afastamento mais frequentes são ligados ao estresse, gerado pelo grande fluxo de passageiros, pelas diversas paradas realizadas ao longo da jornada e pelos congestionamentos, entre outros, e que fazem com que o trabalho desses profissionais seja diferenciado dos demais motoristas.
Um terço das viagens nas grandes cidades brasileiras é feito por meio de transporte público, sendo o ônibus o principal modo utilizado. “Mais de 20 mil trabalhadores fazem funcionar o setor de transporte coletivo urbano na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Os altos índices de doenças, como perda auditiva, estresse, ansiedade e depressão, sinalizavam ao longo dos inquéritos conduzidos pelo MPT, que as condições de ambiente de trabalho são influenciadoras diretas do desenvolvimento dessas patologias”. Os resultados da pesquisa ratificam esses indicativos, explica a procuradora Elaine em nota.
Entre 2011 e 2016, mais de R$ 35 milhões foram pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para trabalhadores do setor de transportes da RMBH, dos quais aproximadamente R$ 7 milhões (19%) foram referentes a afastamentos causados por acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, o que corresponde a um gasto médio de R$ 1,1 milhão por ano. Para Renato, a parceria com o MPT-MG representa importante esforço de pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Traz novo foco sobre a regulamentação dos veículos e dos serviços de transporte público”, afirma. “Não estamos olhando apenas o usuário, mas a condição de trabalho do operador, o que impacta na vida e nas condições de trabalho dele”.
Entre as características dos veículos do transporte coletivo que afetam as condições de trabalho de operadores estão ergonomia e postura; aceleração e desaceleração bruscas; direção por períodos prolongados; acúmulo de função, bem comum em Belo Horizonte, com a redução de linhas com a presença dos cobradores; vibração, ruído e movimentos repetitivos. Parte das sugestões apresentadas no estudo para a melhoria da qualidade de vida e a prevenção de doenças laborais passa pela adaptação nos veículos.
Os ônibus são “peças” que podem ser montadas de diferentes maneiras, de acordo com as demandas apresentadas pelo cliente. Entre as intervenções, está a montagem de cabine ergonômica e o uso de câmbio automático, além da instalação do motor na parte traseira do veículo. Foi identificado que há um maior atraso tecnológico dos veículos fabricados no Brasil e na América do Sul quando comparados aos fabricados na Europa, o que reforça a viabilidade de adequação da frota.
De acordo com a pesquisa, “as doenças ocupacionais apresentadas limitam o estilo de vida dos indivíduos, trazem prejuízos à qualidade de vida e elevam gastos com saúde em função do uso prolongado de medicamentos, necessidade de inúmeros e complexos exames de diagnósticos, frequentes internações hospitalares, cirurgias etc.”.
O termo de cooperação assinado entre as instituições investiu R$ 1,6 milhão nas atividades, que resultaram na elaboração de relatórios técnicos (RT), compilados em três cadernos técnicos (CT) com as principais informações identificadas nas pesquisas: CT1 – Impacto do ônibus na saúde do motorista e cobrador; CT2 – Impacto da regulação do transporte coletivo na saúde do motorista e cobrador; e CT3 – Desafios da mobilidade urbana na saúde do motorista e cobrador.