Trajeto Moda resgata autoestima e garante profissão e renda a mulheres em situação de vulnerabilidade
Iniciativa do Governo de Minas, com aporte de R$ 5,2 milhões, já beneficiou 250 mineiras em 19 municípios; nesta segunda-feira (28/8), chega a Ribeirão das Neves
“Pense em uma pessoa desacreditada, que já sofreu todos os tipos de violência, quase alcoólatra, que não tinha coragem de chegar na janela de casa. Hoje estou aqui, entendendo de moda, aprendendo a costurar, convivendo com outras pessoas. Para mim, tudo se transformou, realmente mudou a minha vida”. O relato emocionado é de Glaucia Botelho, moradora de Couto Magalhães, no Vale do Jequitinhonha, uma das 250 mineiras já beneficiadas em 19 municípios pelo projeto Trajeto Moda, do Governo de Minas.
Nesta segunda-feira (28/8), o programa chega a Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e, ainda neste ano, será levado a mais três municípios no estado: Frei Gaspar, Governador Valadares e Serro.
A iniciativa busca promover qualificação profissional, inserção produtiva e empoderamento feminino, proporcionando a transformação pessoal de mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social, como as que se encontram em situação de violência doméstica, mães solos ou as que vivem em insegurança alimentar.
Com aporte de R$ 5,2 milhões, o projeto, lançado em abril deste ano e coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese-MG), está em fase de interiorização. Até 2024, deve beneficiar 500 mulheres, alcançando 35 municípios mineiros. O projeto piloto foi executado na cidade de Belo Horizonte em 2021, beneficiando 17 mulheres.
“Esse projeto não é só qualificação em costura. É mais do que isso, ele dá direito às mulheres, mostrando o que é empreendedorismo, liderança e educação financeira, para que essa mulher se transforme, se torne uma profissional e gere renda. Esse é o nosso objetivo: tirar as pessoas da vulnerabilidade”, enfatiza a secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Elizabeth Jucá.
Moradora do município de Coluna, no Vale do Rio Doce, Ana Angélica, está entusiasmada com a possibilidade de geração de renda para as mulheres da cidade. “Vamos ter o ofício do corte e costura e estaremos capacitadas para isso. Logo depois do curso, formaremos uma associação que terá um reflexo muito positivo para as famílias, com empoderamento, autonomia e melhora da autoestima das mulheres. Estamos com o coração bem quentinho”, comemora.
Qualificação para autonomia
O Trajeto Moda utiliza metodologia inédita para qualificar mulheres socialmente vulneráveis para o mercado da moda, um dos setores que mais gera emprego no Brasil, e propõe ações contínuas para desenvolver autonomia, cidadania e independência financeira.
A seleção das mulheres para participar do projeto é realizada em parceria com os municípios, especialmente pelas equipes dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras), que também colaboraram na construção dos conteúdos programáticos que serão ministrados, atendendo as demandas emergenciais de cada cidade.
“O projeto vai muito além de capacitar essas mulheres para gerar renda. Vem para trazer autonomia e mostrar que são capazes, podem ter uma profissão e ajudar a própria família”, salienta o subsecretário de Inclusão Produtiva, Trabalho, Emprego e Renda, Arthur Hélio Albergaria Campos.
Etapas do projeto
O projeto é desenvolvido em três módulos: capacitação em costura, cidadania, inteligência emocional e criação de negócio; qualificações específicas, além de assessoramento, desenvolvimento profissional, estruturação e comercialização.
O primeiro módulo está em execução nos municípios de Almenara, Ataléia, Bonito de Minas, Carlos Chagas, Coluna, Couto de Magalhães, Diamantina, Francisco Sá, Guaraciama, Joaíma, Mata Verde, Muriaé, Novo Cruzeiro, Pedras de Maria da Cruz, Rio Vermelho, Rubelita, Salinas, Taiobeiras e Varzelândia e Ribeirão das Neves. Mas ainda neste ano chegará a Frei Gaspar, Governador Valadares e Serro.
Nesses municípios, as mulheres atendidas estão sendo capacitadas na prática da costura, com aprendizado do manuseio das máquinas industriais para confecção de peças básicas. Elas também recebem orientações sobre cidadania e inteligência emocional, bem como sobre assuntos ligados à autoestima, convivência em grupo, conscientização sobre seus direitos e deveres e sobre a identificação de ciclos de violência doméstica e acolhimento de mulheres na rede assistencial.
Outro foco desta fase do projeto é o oferecimento de oficinas para a criação de negócios, que têm como foco desenvolver habilidades do comportamento empreendedor nas participantes, simulando a criação de um negócio ou novo produto, por meio da identificação e direcionamento de oportunidades para a produção local.
“A gente trabalha também toda a parte emocional, mostrando para essas mulheres a capacidade que elas têm. A gente consegue trabalhar não apenas o ofício, mas como ela vai aplicar o que aprendeu no curso, gerando renda e independência financeira”, pontua Wanêssa Cabidelli, coordenadora do projeto.
Investimento e expansão
Dos R$ 5,2 milhões, a Sedese investiu, até o momento, R$ 1,8 milhão para a expansão do projeto. Parte deste recurso foi direcionado à compra de 159 máquinas que vão auxiliar os municípios a montar espaços colaborativos de costura e garantir a contratação dos cursos técnicos de qualificação. Além disso, foi empregado também na contratação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que oferece os cursos de capacitação.
A entrega dos maquinários e a disponibilização dos cursos compreendem a primeira de uma série de ações para o desenvolvimento do projeto, que conta ainda com outras etapas definidas de acordo com as especificidades e realidades locais dos municípios.
Até 2024, outros R$ 3,4 milhões de recursos da Loteria Mineira serão investidos na expansão do Trajeto Moda para mais 11 municípios: Buritizeiro, Capitão Enéas, Caraí, Catuji, Crisólita, Felisburgo, Frei Lagonegro, Igarapé, Monte Azul, Ouro Verde de Minas e Uberaba. Além de permitir a ampliação de cidades atendidas, o novo aporte apoiará também a conclusão nos 24 municípios onde o projeto já está sendo executado.
“Os resultados são muito positivos em todos os municípios atendidos pelo projeto. São relatos de autonomia e autoestima que essas mulheres ganham a partir do momento em que entram e iniciam as aulas. Nossa ideia é expandir e levar para todas as regiões de Minas Gerais”, explica Arthur Albergaria, subsecretário de Inclusão Produtiva, Trabalho, Emprego e Renda.
O Trajeto Moda
A iniciativa da Sedese, inicialmente inserida no programa estratégico Percursos Gerais: Trajetória para a Autonomia, surgiu a partir do Mapa Falado, realizado pela Sedese em 16 municípios de baixo IDH-M da Diretoria Regional de Teófilo Otoni, município que registrava expressivos índices de violência doméstica. Diante dessa realidade, foi diagnosticada a necessidade específica de criar uma ação voltada para mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade.
O formato do Trajeto Moda foi desenvolvido em parceria inédita com empresários, acadêmicos e profissionais do mercado da moda. Em 2021, esses parceiros ajudaram a realizar o projeto piloto, em Belo Horizonte, com a participação de dez mulheres do Aglomerado da Serra e sete representantes regionais que contribuíram na adaptação da metodologia para ser aplicada no interior do estado em 2023.
Fotos: Dirceu Aurélio
Galeria de fotos disponível em: https://www.agenciaminas.mg.gov.br/multimidia/galeria/trajeto-moda-resgata-autoestima-e-garante-profissao-e-renda-a-mulheres-em-situacao-de-vulnerabilidade