Pesquisadoras da UFMG usam modelos tridimensionais para analisar a postura em crianças com autismo
Estudo utiliza movimento com a mesma tecnologia do filme “Avatar”; responsáveis podem cadastrar crianças de 6 a 8 anos como voluntárias
Os filmes da franquia Avatar, dirigidos por James Cameron, são sucesso de bilheteria e público. Os dois longas já lançados levaram milhões de espectadores de todo o mundo aos cinemas, encantados com a tecnologia de análise de movimento utilizada na produção. É esta mesma tecnologia que Letícia Paes Silva, aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação (PPGCR), da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, utiliza em sua pesquisa para compreender e analisar o Controle Postural em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O Sistema de Análise do Movimento Tridimensional – nome dado à tecnologia utilizada pelo projeto – possibilita que os pesquisadores possam capturar o movimento humano em três dimensões e analisá-lo com muita precisão e detalhamento, fornecendo informações valiosas sobre a cinemática (descrição do movimento sem considerar as forças envolvidas) e cinética (estudo das forças envolvidas no movimento).
Letícia Paes Silva explica que a captura dos movimentos é feita por meio de marcadores reflexivos colocados em pontos anatômicos específicos do corpo, como articulações e segmentos corporais, para rastreá-los. Câmeras infravermelhas são adotadas para capturar a imagem dos marcadores em várias posições ao longo do tempo, que serão analisadas e processadas por softwares capazes de determinar a posição tridimensional de cada marcador em relação ao espaço. A análise conta também com um software especializado que realiza uma série de análises, incluindo cinemática, cinética e análises específicas de postura, amplitude de movimento, velocidade, aceleração, entre outras.
A pesquisa de Letícia está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Análise de Movimento (LAM) da EEFFTO – um dos mais bem equipados da América Latina – em parceria com o Laboratório de Análise do Movimento Humano e Processamento de Sinais (LAMPS) da Faculdade de Ceilândia, da Universidade de Brasília (FCE/UnB). O trabalho é orientado pelo professor Sérgio Teixeira da Fonseca (EEFFTO/UFMG) e coorientado pela professora Clarissa Cardoso (UnB). Participam também da pesquisa as alunas Priscila Albuquerque (doutorado), Mariana Aquino (pós-doutorado), Ana Carla Moreira Lara, Maria Rita Gonçalves Tavares e Júlia Beatriz Palma Nunes (alunas de iniciação científica) e a pesquisadora Liria Okai Nóbrega.
Origem do estudo e possíveis impactos
Letícia é fisioterapeuta, formada pela UFMG, aperfeiçoamento em Reabilitação Infantil pela Associação Mineira de Reabilitação. Seu contato diário com pacientes a fez perceber a crescente demanda de crianças com TEA sendo encaminhadas para atendimentos fisioterapêuticos. A pesquisadora explica que seu trabalho tem o “potencial de fornecer insights valiosos sobre os desafios motores enfrentados por crianças com TEA. Essa compreensão mais profunda pode ser útil para identificar precocemente essas dificuldades motoras, monitorar o progresso e avaliar a eficácia de intervenções em crianças com TEA”. Ao contrário dos estudos tradicionais, que avaliam apenas a postura das crianças quando estão em pé, esse estudo busca investigar também o controle da postura quando elas estão sentadas. Isso porque essa posição pode impactar o desenvolvimento de várias habilidades na infância, uma vez que os pacientes passam grande parte do dia sentadas na escola.
Como participar
O projeto recebe a participação de crianças com TEA e típicas (sem nenhuma peculiaridade de saúde) que tenham 6, 7 e 8 anos. Para participar, é necessário que os responsáveis agendem um horário com a equipe, por meio do formulário ou Whatsapp das alunas de IC: 037 99951-2294 (Maria Rita) ou 037 99129-3887 (Ana Carla). A partir de março, é possível também participar das coletas que acontecerão em Brasília, no campus Ceilândia da UnB. Todos os participantes receberão um relatório com os resultados preliminares obtidos durante a participação na pesquisa.
Foto: Arquivo pessoal: Letícia Paes Silva