Servidores da Assistência Social cobram mudança na legislação

Servidores da Assistência Social cobram mudança na legislação

Por Leandro Perché

Após três semanas, os servidores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) voltaram a ocupar, nesta terça-feira (15/10), o plenário da Câmara de Contagem para reivindicar melhor estrutura para a carreira e uma alteração na legislação que trata dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).

Na plenária de 24 de setembro, o grupo recebeu apoio dos vereadores e da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Social da Câmara, que se comprometeu a buscar entendimentos com a Prefeitura de Contagem nesse sentido. Na ocasião, o presidente desse Legislativo, Alex Chiodi (União), abriu espaço para a manifestação da categoria na Tribuna Livre desta terça-feira (15).

Falou em nome do grupo a assistente social Cleone Miranda, que é da coordenação dos fóruns do SUAS em níveis municipal e estadual. Ela externou o descontentamento da categoria com a Lei Complementar 367/2024, aprovada pela Câmara em dezembro do ano passado. Essa matéria fez alterações em algumas secretarias municipais, mas também suprimiu um artigo de uma lei de 2017 (LC 247/2017) que garantia que as coordenações das unidades CRAS e CREAS fossem exclusivamente ocupadas por servidores efetivos.

“A supressão do parágrafo único do Artigo 26 daquela Lei representou a retirada de um direito dos servidores efetivos de Contagem. Mas, se o conteúdo merece críticas negativas, também a forma as merece, porque não condiz com a tradição democrática e com a função insubstituível desse parlamento. Foi feito sem diálogo com as trabalhadoras e trabalhadores e dentro de um pacote de votações que tratavam da organização administrativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar”, explicou Cleone.

A servidora pontuou que a Assistência Social está regulada pela Lei 8742/1993 e pela Lei 12345/2011, e que os CRAS e os CREAS são unidades de atendimento ao cidadão nos quais a política pública se materializa. “Esses equipamentos públicos estatais, de acordo com a NOBRH/SUAS, devem ser coordenados por profissionais de nível superior que tenham vínculo efetivo, para evitar que suas atribuições sejam contaminadas por ingerências indevidas. Então, solicitamos aos membros do legislativo municipal a revogação da Lei Complementar 367 de 2024 e que seja restaurado o direito subtraído”, cobrou.

Em resposta, o presidente da Câmara ressaltou que a lei em questão representou avanços e que revogá-la seria um retrocesso. “A lei aprovada pela Câmara em 2023 tratava de outras questões, inclusive benefícios para os trabalhadores e foi fruto de um amplo debate com a categoria. Porém, houve a alteração desse artigo que garantia direitos para os efetivos. A questão agora não é revogar a lei aprovada, pois há pontos importantes, mas retomar esse artigo que foi retirado e corrigir esse problema”, ponderou Chiodi, lembrando que os vereadores têm cobrado do Executivo o Plano de Assistência Social.

Outras reinvindicações

A categoria aproveitou o espaço da Tribuna Livre para apresentar outras necessidades do SUAS. Entre elas, a importância da realização de concurso público para as profissões do sistema que normalmente são contratadas por regime CLT, como é o caso de advogados e pedagogos. E também a urgência de se elaborar um plano de carreiras que acabe com as distorções salariais, e que crie o cargo de analista de políticas públicas do SUAS com jornada de 30h.

Além da questão de recursos humanos, cobraram mais estrutura, incluindo o reordenamento dos CRAS atuais e a criação de novas unidades para atender a demanda. “Pelas normativas do SUAS, Contagem precisaria ter no mínimo mais 25 CRAS. Há uma inviabilidade de manter a condição atual desses equipamentos porque devido ao tamanho do território e o número de famílias – superior ao que preconizam as diretrizes – os serviços não têm tido o impacto necessário e, assim, não vêm cumprindo a sua função”, destacou Cleone.

Eles abordaram também a questão do controle social. “No Conselho Municipal de Assistência Social, está vedada a participação de servidores efetivos como conselheiros porque existe dispositivo que proíbe tal representação. A vedação é irregular e conspira contra os princípios de participação e contra os valores do estado democrático de direito. A nova Lei do SUAS está sendo discutida pela Secretaria de Assistência Social e deve chegar a esta Casa. Pedimos atenção na sua tramitação e que seja garantida a representação dos trabalhadores”.

Por fim, a categoria se comprometeu a buscar emendas de parlamentares em níveis estadual e federal para viabilizar algumas propostas; e sugeriu que a Câmara Municipal garanta a participação popular na elaboração do orçamento e que realize um ciclo de debates sobre os desafios para o SUAS de Contagem.

“Antecipamos nossos agradecimentos à presidência desta Casa e à Comissão de Direitos Humanos e Assistência Social pela interlocução, e aguardamos o agendamento da reunião com Executivo municipal para tratar das demandas apresentadas”, concluiu Cleone Miranda.

A vereadora Moara Saboia (PT) reafirmou a disposição do Legislativo em auxiliar os servidores. “Fico feliz que a Lei do SUAS está sendo debatida na Prefeitura. A gente teve vários avanços nos últimos três anos, e o principal foi a realização do concurso público que, hoje, permite que a categoria tenha condições de debater com a Câmara e o Executivo, com a segurança da manutenção do seu emprego. Espero que seja incluído nesse processo a equiparação de cargos e salários, a ampliação e a informatização do sistema. É importante também o reajuste do valor do cartão social, que é um projeto de minha autoria”, concluiu.