ALMG: Audiência abordou a relação direta entre a vacinação e a prevenção do câncer
A vacina contra o HPV é altamente efetiva para prevenir diversos tipos de câncer, principalmente no colo do útero, nos órgãos genitais, no ânus e na porção oral da faringe. No entanto, a taxa de imunização da população contra o vírus ainda não é a ideal, chegando a pouco mais da metade do público-alvo feminino e cerca de um terço do masculino, se considerada a segunda dose.
Dados como esse motivaram audiência pública da Comissão Extraordinária de Prevenção e Enfrentamento ao Câncer da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quinta-feira (19/10/23), sobre a relação direta entre a vacinação e a prevenção da doença e as estratégias em curso para a ampliação da cobertura vacinal.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero no Brasil em 2023, o terceiro de maior incidência na população feminina, atrás do de mama e do colorretal. O que poucos sabem é que todas as mulheres que desenvolvem o câncer de colo do útero tiveram contato com o HPV, como destacou a chefe da clínica ginecológica da Santa Casa de Belo Horizonte, Maria Inês Lima.
Também são atribuídos ao vírus 88% dos casos no ânus, 70% dos na vagina e 50% daqueles no pênis, segundo a médica. O HPV é o segundo maior fator de risco para a doença, atrás apenas do tabaco, e estima-se que até 10% dos cânceres sejam induzidos pelo vírus nas mulheres e ao menos 5%, nos homens.
As maiores formas de prevenção do HPV são o uso de preservativo e a vacinação de mulheres e homens, mas principalmente de meninas que ainda não iniciaram sua vida sexual, que ainda não pegaram o vírus e, por serem jovens, produzem mais anticorpos.
Maria Inês Lima informou que o índice de proteção da vacina quadrivalente, oferecida hoje no Sistema Único de Saúde (SUS), é de 70% para os casos no colo do útero, chegando a 75% das ocorrências na vulva, 90% no pênis e 90% no ânus. A proteção é ainda maior com a vacina mais moderna disponível na rede privada, nonavalente.
Histórico da vacinação no País
Itamar Bento Claro, da coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca, apresentou o histórico da implementação da vacina contra o HPV no País.
Em 2006, ela foi aprovada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e chegou aos postos de saúde em 2014, oferecida somente a meninas de 11 a 13 anos. Meninos de 11 a 14 anos foram incluídos em 2017 e, atualmente, a vacina atende a população de ambos os sexos de 9 a 14 anos, imunodeprimidos e vítimas de violência sexual de 9 a 45 anos, em ambos os casos.
As diretrizes nacionais para o rastreamento do câncer de colo de útero, de acordo com Itamar Claro, são voltadas para a população feminina de 25 a 64 anos e consistem no diagnóstico por meio do exame Papanicolau, realizado a cada três anos, após dois exames anuais sem anormalidade.
Ele também abordou as estratégias da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a eliminação desse tipo de câncer, pautadas em três pilares: a vacinação de 90% das meninas de até 15 anos, o índice de 70% das mulheres examinadas antes dos 35 anos e aos 45 anos, e 90% das mulheres diagnosticadas com a doença em tratamento.
Segundo Itamar Bento Claro, do Inca, a vacina contra HPV atende a população de ambos os sexos de 9 a 14 anos Foto: Henrique Chendes
População imunizada em Minas
Representando a Secretaria de Estado de Saúde, Marcela Ferraz trouxe dados da cobertura vacinal em Minas.
Entre 2014 e 2023, 85% do público-alvo feminino tomou a primeira dose da vacina, percentual acima da média de 80% definida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Contudo, em relação à segunda dose, o índice de meninas imunizadas já cai para 69%.
A situação é pior entre os homens, vacinados de 2017 a 2023: apenas 50% tomaram a primeira dose e 35% a segunda.
Como o principal alvo do programa são os adolescentes, ela acredita que a hesitação em se vacinar está relacionada a problemas típicos da idade, como o fato de achar que nunca vão adoecer, à dificuldade de acesso às vacinas, oferecidas em lugares pouco frequentados por eles, como postos de saúde, e à falta de capacitação dos profissionais de saúde para lidar com esse público.
Para reverter esses números, o governo investe hoje em ações como um programa de vacinação itinerante, que deve chegar aos municípios com mais de 50 mil habitantes em 2024, e em incentivos financeiros às administrações municipais atrelados a ações nas escolas, uma demanda de todos os participantes da audiência, uma vez que são os espaços naturalmente ocupados pelo público-alvo.
Presidente da comissão, o deputado Elismar Prado (Pros), que solicitou a audiência, destacou que, principalmente durante a pandemia de Covid-19, houve uma campanha de desinformação contra as vacinas que trouxe consequências no controle de doenças como o câncer.
Países com programas amplos de vacinação praticamente zeraram os casos de câncer de colo do útero, exemplificou. “Por isso, é importante debater não só a importância da vacinação, que já é bem demonstrada pela ciência, mas também as estratégias e dificuldades para sua ampliação”, afirmou.
Na última terça (17), foi comemorado o Dia Nacional da Vacinação.
Foto em destaque: Henrique Chendes