Alunos da Funec desenvolvem projeto de tecnologia assistiva e conquistam prêmio

Alunos da Funec desenvolvem projeto de tecnologia assistiva e conquistam prêmio

Projeto desenvolvido por estudantes da Funec Riacho se destaca em feiras tecnológicas e mostra que a educação e inclusão podem transformar realidades

Um grupo de seis estudantes da Fundação de Ensino de Contagem (Funec) Riacho mostrou que a combinação entre criatividade, curiosidade, empatia e apoio pode gerar resultados incríveis. Durante cerca de seis meses, eles criaram um projeto de tecnologia assistiva: um óculos inteligente, capaz de captar sons e transformá-los em informação visual para pessoas surdas. O projeto foi premiado com uma bolsa de iniciação científica, ao concorrer com mais de cem propostas, em uma das mostras científicas mais relevantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ele chamou a atenção por ser acessível, criativo e socialmente engajado.

Tudo começou com uma inquietação de Heitor Augusto, aluno do curso técnico em informática integrado ao ensino médio, após ter tido um colega de turma surdo. “Vimos como era o dia a dia do nosso colega, e decidimos criar algo simples, para qualquer pessoa poder usar e fazer diferença de verdade. A tecnologia assistiva existe, mas não está disponível em todo lugar. Então, quisemos fazer algo para mudar isso”, explica o jovem, idealizador da proposta.

A trajetória do grupo foi sendo moldada com apoio de professores e da própria Funec, que integra desde cedo os estudantes a projetos científicos. O trabalho foi contemplado com uma bolsa do Programa de Iniciação Científica Júnior – ICJ (PICjr) e teve participação na Mostra Tecnológica Funec Riacho 2024, na Feira Científica, Tecnológica e de Extensão da Funec (FECITEX) e na Feira de Ciências, Tecnologia, Educação e Cultura (FECITEC/UFV), onde conquistou reconhecimento e premiação, no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC UFV), que tem como objetivo despertar a vocação científica e incentivar novos talentos, a partir da ampliação de seu acesso à cultura científica.

Durante as feiras, os alunos se encontraram com intérpretes de Libras, pessoas surdas e estudantes universitários que contribuíram com sugestões para o aprimoramento técnico do projeto. A troca de experiências fortaleceu a confiança do grupo e ampliou os horizontes da iniciativa.

A ideia se transformou em projeto com a ajuda dos colegas Bernardo Guimarães, Arthur Gabriel, Sofia Helena, Ana Clara Leal e Bárbara França. A equipe, mesmo ainda em formação acadêmica, aprofundou em conceitos de programação, acessibilidade, Libras e design de interfaces. Até o momento, foram cerca de seis meses de trabalho, entre planejamento, pesquisa e desenvolvimento. “Foi um processo intenso. Precisávamos entender como comunicar sons através da visão. Não bastava funcionar, no final tinha que fazer sentido”, conta Arthur, que cuidou da parte visual do trabalho.

Durante o processo, o grupo se deparou com desafios técnicos e teóricos, por exemplo, de como vencer a limitação de conhecimento. A resposta veio de onde menos se esperava: da vontade de aprender. “Ainda estamos no ensino médio, não sabemos tudo de informática. Mas buscamos cursos por fora, falamos com intérpretes, escritores, pessoas que vivem nessa realidade. Foi aí que entendemos de verdade a importância do que estávamos criando”, lembra Sofia Helena.

 
Os estudantes da Funec Riacho foram premiados pela UFV, no campus de Florestal, durante a Feira de Ciências, Tecnologia, Educação e Cultura (FECITEC/UFV), em março deste ano, pelo projeto do óculos inteligente
Fotos: à esquerda, arquivo pessoal estudantes da Funec Riacho / à direita, Ronnie Von / PMC

Execução do projeto

Os óculos desenvolvidos pelo grupo são capazes de identificar sons e conversas e transformá-los em sinais luminosos direcionados ao usuário. Além do protótipo, os estudantes criaram um site educativo que explica sobre o projeto. “Nós queríamos que fosse também uma plataforma de informação. Muita gente não tem noção do que significa viver sem ouvir”, reforçou Arthur.

Parte dos componentes do óculos ainda terá de ser criada do zero, com desenhos e soluções mecânicas desenvolvidas pelos próprios estudantes. Tudo isso para manter o foco principal de criar uma tecnologia assistiva, acessível e inclusiva. Com o recurso da bolsa conquistada, os alunos pretendem agora desenvolver o primeiro protótipo físico do óculos, investir em melhorias no site do projeto e criar um aplicativo complementar.

Segundo os integrantes do grupo, a estimativa inicial para a produção do protótipo gira em torno de R$ 500. O cálculo leva em conta o custo de pequenas câmeras, projetores e microfones, usando componentes relativamente mais baratos. Outro grande desafio, foi encontrar peças compactas e funcionais, que não atrapalham a visão e possam transmitir as informações visuais de forma eficaz. A possível chegada de uma impressora 3D, nesta unidade da Funec, também deverá acelerar esse processo, já que permitirá a criação de peças específicas para o produto.

Segundo a vice-diretora da unidade, Renata Lima, a Funec tem investido na pesquisa científica. “Acreditamos que a ciência não começa na universidade. Com o apoio da Prefeitura, temos projetos como o PICjr e parcerias com a UFMG que mostram aos alunos que eles podem ser cientistas desde o ensino médio. E os frutos são esses, inovação, reconhecimento e, acima de tudo, formação cidadã”, afirma.

Renata lembra que esse não é um caso isolado. “Já tivemos alunos da Funec Riacho premiados com credenciais para eventos na Inglaterra, no Peru. Tudo isso mostra que escola pública pode e deve formar jovens pesquisadores.”

O reconhecimento fora da escola deixou marcas profundas nos alunos. Mais do que o troféu, a experiência os transformou. “Ver o projeto saindo do papel e sendo reconhecido é gratificante. Nós aprendemos a lidar com as pessoas, com o trabalho em equipe, com as dificuldades. No fim, percebemos que podemos ajudar alguém. Isso é o mais importante”, resumiu Heitor. Ele afirmou ainda que “o verdadeiro prêmio foi descobrir que ciência se faz com propósito”.

De acordo com o grupo, os professores de Geografia e Gestão de Tecnologia da Informação, Ivo Venerotti e Rubens Palhares, foram fundamentais para o amadurecimento da ideia e para a preparação dos alunos nas apresentações em feiras e mostras. “Recebemos apoios essenciais. Nosso diretor Luiz Henrique, por exemplo, foi um dos que sempre nos incentivou, nos levou até a mostra, acreditou na gente. Sem ele, nada disso teria acontecido”, destaca Bernardo, em agradecimento. No dia da Mostra da UFV, o diretor forneceu por conta própria transporte para levar o grupo até o campus de Florestal, onde ocorreu a mostra.

Autor: jornalista Wendell Rafael / edição: Vanessa Trotta / Foto: Ronnie Von