Barreiro exige de empresa de logística contrapartidas socioambientais
Comunidade está preocupada com implantação da Log, do setor de galpões, especialmente pelos impactos no tráfego local
Representantes da região do Barreiro, em Belo Horizonte, cobraram contrapartidas sociais, além das ambientais e daquelas relacionadas à melhoria do tráfego, da Log Comercial Properties, empresa do setor de galpõe logísticos que pretende se instalar na localidade. O assunto foi discutido em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, na noite desta quinta-feira (24/8/23).
Mesmo colocando-se a favor da implantação do empreendimento, que promete gerar empregos de qualidade, André Xavier, do Conselho Regional de Transporte e Trânsito do Barreiro, considerou baixa a contrapartida social oferecida pela empresa.
Ele citou obras que poderiam estar contempladas entre as compensações, como melhorias na Estação Diamante, a reinstalação no bairro Milionários de escola municipal (fechada recentemente) e a construção de uma unidade de pronto atendimento (UPA).
“Tem muita coisa acontecendo no Barreiro”, afirmou, lembrando de grandes empreendimentos que estão sendo implantados no Milionários e no bairro Tirol. Na sua avaliação, por tudo isso, são necessárias obras mais estruturantes, especialmente viárias, entre as contrapartidas impostas pela PBH à empresa.
André Xavier lembrou que, no Orçamento Participativo, há intervenções aprovadas há 12 anos e até hoje não realizadas. Por fim, propôs a criação de uma comissão para discutir as contrapartidas sociais para a LOG.
O vereador da Capital Bruno Pedralva observou que qualquer grande empresa candidata a se instalar na cidade tem obrigações ambientais e outras relacionadas ao trânsito, já previstas em lei. Além dessas, defendeu também as contrapartidas sociais, uma vez que a empresa vai obter lucros naquela região. “Então, parte do lucro da LOG deve ser transformado em benefícios para o povo do Barreiro. Esta é uma obra de R$ 290 milhões. Tenho certeza que dá pra fazer mais”, cobrou.
Dilson José, do grupo Fé e Política e da Pastoral Afro da Paróquia de Santo Antônio, destacou que a comunidade foi pega de surpresa pelo projeto a ser implantado na Via do Minério. Diante da extensão do empreendimento, ele demonstrou preocupação com a fauna e a flora locais e com a mobilidade.
Reforçando esses pontos, o deputado Betão (PT), que conduziu a reunião, aproveitou para parabenizar os participantes pelos 168 anos de história do Barreiro, “região de luta de trabalhadores, que fazem daqui uma área muito grande e potente”.
Ele quis saber junto à Log quais os impactos no trânsito local, já caótico mesmo antes do novo negócio. “Teremos aumento considerável no trânsito de carretas com esse projeto, que vai impactar grandes vias – as BRs 040 e 381, além da MG-040 e do Anel Rodoviário”, observou.
Com R$ 290 mi investidos, Log quer operar cinco quadras de galpões
Stefan Cardoso, gestor de desenvolvimento imobiliário da Log Comercial, destacou que a empresa é de Belo Horizonte e possui quase 1,5 milhão de m². Nessa área são construídos galpões destinados à armazenagem para vários setores do mercado, especialmente para e-commerce, que demandam grande quantidade de mão de obra.
Respondendo a questionamentos, ele disse que a empresa está sempre disposta a conversar com a população. Sobre as contrapartidas, procurou deixar claro que elas são todas definidas pela PBH. Segundo ele, há muitos benefícios para o Barreiro – tanto a contrapartida viária quanto a ambiental têm valores expressivos a serem investidos.
Bruna Becattini, coordenadora de arquitetura da LOG, detalhou que o projeto é para cinco quadras de galpões – duas prontas (uma já com alvará) e as demais em fase de licenciamento. Desde o início em 2015, a PBH vem definindo as condicionantes – quase 50, englobando 22 itens – e acompanhando a execução.
Segundo ela, o poder público também exigiu um plano de contratação de mão de obra, contemplando medidas para geração de empregos. Nesse quesito, a previsão é de que sejam gerados 4,2 mil postos de trabalho após a implantação completa, fora os da fase de obras, com investimento total de R$ 290 milhões.
A executiva citou intervenções viárias que ficarão a cargo da Log, atendendo às condicionantes, entre elas: criação de duas faixas exclusivas de ônibus, na Via do Minério (onde será implantado um BRT) e na Avenida Valdir Soeiro, principal via de saída da região. Em todo o entorno do empreendimento, está prevista a construção de ciclovia e pista de cooper, além da requalificação de todas as calçadas.
Em relação à contrapartida ambiental, Bruna Becattini informou que a PBH está analisando áreas onde a firma possa fazer o plantio de mudas para compensar a supressão de quase 3 mil árvores.
A Log ficará também com a incumbência de fazer a reforma dos vários parques da região: Vila Pinho, das Águas, Ecológico e Francisco Lins do Rego (no qual serão plantadas 5,8 mil mudas, num valor de R$ 9 milhões). Está prevista ainda a revitalização de algumas praças no Barreiro.
Para PBH, maior contrapartida social virá ao longo dos anos
Marilena Chaves, assessora da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Belo Horizonte, considerou relevante o fato do novo empreendimento ter como origem o próprio Barreiro. Ela explicou que a contrapartida social mais expressiva que é pedida pelos moradores deve ocorrer ao longo da vida da Log no local.
“A questão ambiental já está contemplada; a parte social é uma construção”, avaliou. Na sua visão, apenas a geração de mais de 4 mil empregos já garante a melhoria das condições de cerca de 16 mil pessoas das famílias desses funcionários. E outras parcerias entre a empresa e a comunidade poderão ser firmadas, com ações benéficas para os dois lados, como a melhoria da malha viária e a formação profissional de jovens.