Brumadinho: missa e romaria lembram 272 vítimas da tragédia-crime da Vale
Manifestações de afeto e fé no dia que rompimento da barragem completou 4 anos contaram com a presença de familiares de vítimas, amigos, organizações, grupos de Brumadinho e de outras regiões
Na manhã desta quarta-feira (25/01), familiares de vítimas e atingidos da tragédia-crime de Brumadinho (MG), fiéis, indígenas, amigos, grupos de várias regiões e organizações sociais reuniram-se para a IV Romaria Pela Ecologia Integral a Brumadinho, em frente à Igreja Matriz São Sebastião, na cidade de Brumadinho. Com o tema “Memória, Justiça e Esperança”, o evento, que marca os 4 anos da tragédia-crime, foi conduzido pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e membro da Comissão de Ecologia Integral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Vicente de Paula Ferreira.
Em meio a momentos de forte emoção, os presentes cantaram, fizeram orações e ouviram palavras de conforto sobre justiça, esperança e amor. Dom Vicente de Paula afirmou que se busca “justiça e não vingança” e que “a impunidade é uma erva daninha no Brasil”, referindo-se aos cerca de três anos de tramitação da ação criminal contra 16 pessoas e as empresas Vale e Tüv Süd pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, ocorrido em Brumadinho em 25 de janeiro de 2019 e que resultou em 272 vítimas fatais. Segundo dom Vicente, a questão da tragédia-crime de Brumadinho não é mais um assunto local, mas sim uma questão universal. Ele afirmou, finalizando: “Axé, awer, aleluia, amém”, numa referência a religiões de diferentes povos.
|
Arcebispo de Belo Horizonte pede união
Antes da missa, o público presente recebeu girassóis, que traziam o nome de uma vítimas, que carregaram durante toda celebração. O presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, agradeceu a presença de muitas romarias, inclusive as que vieram de longe, e disse que a união e a participação das comunidades é de extrema importância para o processo de reparação.
Durante a caminhada realizada, a diretora da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM) Maria Regina da Silva disse que a união traz felicidade. “O sentimento de alegria é grande, porque o modo como fomos abraçadas aqui por todos os presentes é muito gratificante. Várias religiões e povos aqui mostram que não estamos sozinhas”, afirmou, emocionada. Maria Regina é mãe de uma das 272 vítimas da tragédia-crime, Priscila Elen Silva, que trabalhava para a Vale – proprietária da barragem – e tinha 29 anos quando morreu soterrada pela lama de rejeitos do reservatório de mineração.
AVABRUM: não à impunidade
Na terça-feira à noite, a AVABRUM divulgou nota, informando que acolhe, de forma positiva, a decisão da Justiça Federal de aceitar a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra 16 pessoas e as duas empresas.
A associação reitera o amplo apelo por Justiça pelas 272 vidas, lembrando que duas mulheres estavam grávidas. Segundo a entidade, a Justiça, quando é lenta, se torna falha e um crime sem punição torna-se recorrente.
Pelo encontro de três “joias”
Os corpos de três “joias” da tragédia-crime, como as vítimas são chamadas pela AVABRUM, seguem soterrados na “lama de sangue” da Vale: Maria de Lurdes da Costa Bueno, Nathalia de Oliveira Porto Araújo e Tiago Tadeu Mendes da Silva.
A associação apela para que a Justiça julgue este caso com agilidade e repudie manobras jurídicas que só têm o intuito de atrasar e postergar a decisão soberana. Esta é a esperança e a luta da AVABRUM por 272 vidas sepultadas vivas pela negligência e ganância.
Entenda o caso na Justiça
A Justiça Federal acolheu a denúncia do MPF nesta terça-feira (24/01). A ação criminal começou a tramitar na Justiça Estadual de Minas Gerais em fevereiro de 2020, mas cerca de um ano depois a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a Justiça Federal era a jurisdição responsável por julgar a ação, acatando um pedido da defesa de dois réus, entre eles o ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman.
Esse entendimento da Sexta Turma do STJ foi ratificado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro do ano passado. Em consonância com a decisão da Segunda Turma do STF, a presidente do Supremo, ministra Rosa Weber, determinou, na quarta-feira da semana passada (18/01), que a Justiça Federal em Minas Gerais promovesse o imediato andamento do processo penal com o argumento de que havia risco de prescrição de crimes apontados pelas investigações da tragédia.
Risco de prescrição
Nesta segunda-feira (23/01), o MPF adotou as medidas necessárias para dar prosseguimento ao caso criminal: o MPF ratificou integralmente a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) em janeiro de 2020 (que deu origem à ação criminal que tramitava na Justiça do Estado de MG).
A ação ficará sob a responsabilidade da 2ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte (antiga 9ª Vara). Em nota do MPF, a procuradora federal Mirian Moreira Lima disse que se tornou urgente ratificar a denúncia do MPMG diante do teor da decisão da ministra Rosa Weber, que destacou o risco de prescrição de crimes denunciados.
Legenda da foto em destaque: Romaria organizada pela CNBB contou com a presença da AVABRUM | Fotos: Washington Alves
Fonte: AVABRUM