Centro Cultural UFMG recebe mostra de formandos em Artes Visuais da UFMG
O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição coletiva Tudo que é rastro um dia foi desejo, dos formandos em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFMG, com curadoria do Projeto Piscinão. A mostra destaca os trabalhos desenvolvidos pelos alunos durante a trajetória do curso, apresentando uma ampla variedade de materiais e suportes, como pintura, desenho, escultura, gravura, cianotipia, instalação e fotoperformance, explorando os espaços e dimensões variadas de cada projeto. O evento acontece no dia 7 de fevereiro, sexta-feira, às 19h. As obras poderão ser vistas até 23 de março. A entrada é gratuita e tem classificação livre.
Tudo que é rastro um dia foi desejo reúne produções dos formandos Bárbara Ferreira, Carolina Sanz, Cássia Giovanna, Eduarda Pereira, Elena Ventura, Imoraes, Isabela Tunes, Ítalo Carajá, Malu Souza, Manu Mati, Marcella Marzano, Maria Luisa Almeida, Paula Costa, Rosana Oliveira, Victor Borém, YOR.
Tudo que é rastro um dia foi desejo – por Caio Marques
Todo desejo surge no campo do inconsciente e o tempo trata de concretizá-lo junto ao corpo. Percorrer esse desejo deixa rastro, um rastro que fica no espaço e no tempo, reflexo de atos corporais perceptíveis, tais como memórias, registros e experiências. São parte das características e, consequentemente, das poéticas que formaram estes artistas durante seu percurso no curso de Artes Visuais.
O olhar de Bárbara Ferreira contempla um encontro com o urbano, um recorte do cotidiano que muitas vezes passa despercebido na correria do dia a dia. Os detalhes de suas pinturas convidam o espectador a prestar atenção na arquitetura da cidade em um contexto solitário, fora do caos urbano. Também utilizando a estética urbana, a série de obras em grafite e estêncil de Yor retrata animais da fauna silvestre sobrevivendo em contraste nos espaços urbanos, de onde seu habitat fora removido.
O processo lúdico de Ítalo Carajá e Rosana Oliveira ativa as memórias da infância, a nostalgia de quem vê, por meio do uso de brinquedos comparando com a realidade que nos cerca. Marcella Marzano apresenta lugares que existem na realidade e, ao mesmo tempo, carregam características de um mundo onírico, compondo paisagens que transitam entre o tangível e o imaginário, refletidas em suas pinturas e cianotipias.
O corpo aparece pelo caminho figurativo e abstrato. Carolina Sanz retrata seu próprio corpo internamente, fazendo referência à decomposição e à repartição, dando visibilidade ao que está oculto. Manu Mati investiga o corpo figurativo, ampliando sua presença no espaço e revelando a identidade singular que ele carrega, desdobrando suas vivências e conflitos pessoais em um diálogo direto com as dinâmicas e pressões da sociedade contemporânea. Maria Luisa Almeida molda seu corpo com argila em uma fotoperformance, o qual se expande em uma série de lascas de argilas finas, frágeis e delicadas.
Eduarda Pereira retrata experiências de uma vida neurodivergente, utilizando pássaros esteticamente modificados para representá-la, retrata situações desconfortáveis com cores vibrantes que contrastam fortemente com um fundo preto, dando destaque para as cenas. As obras de Elena Ventura trazem elementos carregados pelo contraste criando uma composição orgânica de corpos, bichos, esqueletos e seres fantasmagóricos. Já Imoraes explora a edição da memória ao modificar retratos de sua família, mascarando seus rostos e criando novos personagens para estes registros.
Em suas gravuras, Cassia Giovanna questiona o patriarcado ao expor o corpo feminino não como indivíduo, mas em busca de um coletivo que resgata tradições, heranças e ancestralidades. Já Paula Costa mostra um corpo que pede liberdade, criticando como a sociedade regula e impõe julgamentos sobre os comportamentos íntimos e as escolhas pessoais das mulheres.
As instalações de Isabela Tunes criam e recriam composições ao explorarem o espaço em que são instaladas. São desenhos de texturas de troncos de árvores com uma montagem orgânica criando uma nova identidade a cada exposição. Malu Souza associa o corpo humano com o casulo. Utilizando fibras de bananeira ela cria uma urdidura em macramê, que produz tramas como os tecidos da pele, fazendo surgir, a cada ponto, um ser vivo. Já Victor Borém explora materiais como a cerâmica, a madeira, o algodão, o metal e as linhas, promovendo ligação entre eles. O metal encontra-se com a linha, e a madeira com o algodão, são materiais rígidos que esteticamente compõem com materiais orgânicos e maleáveis.
Em consequência deste rastro, o artista em formação, possui um olhar que captura e ressignifica o mundo, imprimindo sentido e desejo em suas obras. Essas características se revelam nas poéticas presentes na Exposição de Formandos da Escola de Belas Artes da UFMG (2024/2). Suas criações refletem tanto a realidade quanto os sonhos, transformando-se em experiências, onde pensamento e produção contribuem no rastro de um desejo.
Foto: Foca Lisboa