Como a 4ª Revolução Industrial impacta nas práticas educativas e nos processos de inclusão
Quantas revoluções são para promover a inclusão dentro e fora da sala de aula
Quatro revoluções industriais promoveram grandes mudanças no mundo. Revoluções que alteraram modos de vida e de interação humana, entre eles, as formas de aprender e ensinar, as relações de trabalho e as maneiras da sociedade se organizar. Desde 2010, estamos na chamada 4ª Revolução Industrial, sentindo e vivendo as transformações bem de perto. E como fica a educação nesse novo cenário?
Na 1ª Revolução, as modificações eram pequenas e lentas, já na 4ª Revolução, as alterações são intensas, amplas, se espalham “na velocidade da luz” e envolvem inteligência artificial, robótica, internet das coisas, metodologias de tratamento de dados, disseminação da informação e nanotecnologia. As tecnologias mudam o mundo como conhecemos e representam uma nova “era” justamente pela velocidade, pelo alcance e pelo impacto. A indústria sofre alterações e a educação também. O professor do Departamento de Geociências (campus Nova Suíça) e do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica do CEFET-MG, Vandeir Robson Matias, conta que a educação é pressionada a responder com a (re)elaboração de currículos, o uso de tecnologias em sala, o desenvolvimento de projetos científicos e, ao mesmo tempo, com a formação de profissionais que atendam às demandas do mercado de trabalho, que é atingido diretamente pelas revoluções. Segundo o relatório “O futuro do trabalho”, do Fórum Econômico Mundial, em 2018, o trabalho era realizado 71% por humanos e 29% por máquinas. A previsão é que em 2025, a relação passe a ser de 48% desenvolvido por humanos e 52% por máquinas. Além da formação de mão de obra, a educação se coloca como essencial no debate sobre essas relações. “A educação deve ter o papel de produzir uma reflexão crítica, porque todo esse cenário é um phármakon, palavra do grego arcaico que significa remédio e veneno. Portanto, temos que observar a dosagem para não sermos intoxicados. A sociedade só vai conseguir ter esse pensamento crítico se a educação criar condições para isso. É a partir da crítica que os indivíduos poderão se planejar melhor nesse cenário extremamente dinâmico e incerto”, avalia Vandeir. Exclusão As “divisões” entre as revoluções industriais não representam rupturas e nem acontecem de forma homogênea em todo o mundo, nem dentro de um mesmo país, estado ou cidade. As transições de fases na economia, na educação e nos processos de industrialização e de pesquisa científica seguem o modelo globalizado, em que alguns países controlam e outros permanecem na periferia dos processos, como é o caso do Brasil. A tônica dos incluídos e dos excluídos continua e de forma ainda mais visível. Segundo Vandeir, a formação profissional no País ainda é aquém nesse cenário, o que não quer dizer que não haja esforços sendo feitos para reduzir essas desigualdades. “Existem investimentos em tecnologia da informação, assim como em ciências dos dados. Uma área que cresce muito nesse cenário é a de cidades inteligentes, e já temos cursos de formação para esses profissionais”. Algumas iniciativas são desenvolvidas no próprio CEFET-MG, como os cursos de pós-graduação latu sensu em Internet das Coisas, em Engenharia de Processos Industriais Automatizados, em Sistemas Eletrônicos e Automação Industrial, e nas várias ações desenvolvidas no ensino verticalizado, do nível médio técnico ao doutorado. Mas, em escala global, a escassa formação de mão de obra qualificada e o pouco acesso às tecnologias de ponta continuam promovendo a exclusão. O professor explica que a revolução cria a sensação de homogeneização e igualdade de acesso, mas, na realidade, as desigualdades são ampliadas, uma vez que o mercado imputou à mão de obra a necessidade da ampliação do conhecimento, mesmo não garantindo a absorção ou o aperfeiçoamento. “Temos uma pressão sobre o estudante, para que ele se adapte à lógica de mercado, imprimindo as concepções de empreendedorismo e competição que não garantem inserção e qualidade de vida. As condições não são as mesmas para todos. Todo mundo sai perdendo, mas quem perde mais são os estudantes mais vulneráveis”, lamenta.“Coordenação de Jornalismo e Conteúdo”