Crise na Arte e Cultura Brasileira: Reflexões e perspectivas

Crise na Arte e Cultura Brasileira: Reflexões e perspectivas
A sensação de não pertencimento a nenhuma manifestação artística atual é algo comum entre milhares de pessoas. Se recorrentemente se flagra consumindo conteúdos produzidos em décadas anteriores ou dificilmente se sente representado por expressões artísticas atuais, você vivencia o que é debatido como consequência da crise na arte.

Se antes as vertentes consideradas arte, englobavam:

  • Música;
  • Dança;
  • Pintura;
  • Cinema;
  • Escultura/Arquitetura;
  • Teatro;
  • Literatura.
Atualmente, com as tantas transformações ocorridas na sociedade, a arte também abrange:
  • Fotografia;
  • Vídeo-arte (exemplo: videogame);
  • História em Quadrinhos;
  • Arte Digital ou Multimídia;
Entre outras.

Definir o que é arte sempre foi complexo e, ao longo dos séculos, nunca houve um veredicto. Temos reflexões que nos ajudam a construir as nossas. Daiana Barasa, escritora e idealizadora da comunidade Escreva, Apenas Escreva, compartilha impressões sobre o tema.

Dentre as principais definições acerca da arte, estão:

Representação (mimetismo) – trata-se da mais antiga concepção sobre a natureza da arte, cuja função está em representar alguma coisa. O conceito principal está firmado no homem imitando a natureza e seguindo essa linha, a semelhança da criação com o original (mimetismo) era o principal critério de autenticidade da arte produzida;

Arte como expressão – o movimento do romantismo, assim como as revoluções trouxeram à arte a emoção, sentimento e subjetividade como força motriz para suas criações. Logo abaixo, este conceito é explorado com mais detalhes;

Como forma (formalismo) – a arte como forma e não por seu caráter representativo. O principal defensor dessa teoria foi o filósofo Clive Bell. Para ele, a arte deve ser vista principalmente por suas qualidades formais (equilíbrio, ritmo, harmonia, unidade, etc.);

Teoria institucional – Em resumo, essa teoria abrange duas perspectivas opostas. Uma delas, proposta por George Dickie, argumenta que a arte só pode ser definida por especialistas na área. A outra, de Ludwig Wittgenstein, se baseia nas “semelhanças de família”, que são uma complexa rede de características compartilhadas, evitando uma definição única da arte para não restringir sua essência.

Aquela que mais se aproxima da minha compreensão sobre o tema é a do filósofo inglês, R. G. Collingwood em seu livro The Principles of Arts (Os Princípios da Arte), que trata da arte como expressão, dividindo o tema em duas categorias:

Arte como mágica em uma função utilitária, capaz de despertar sentimentos únicos nas pessoas, como, por exemplo, a emoção diante do hino nacional, e;

Arte como entretenimento, em sua função hedonista, capaz de despertar emoções nas pessoas, mas não de ampliar sua consciência emocional.

O filósofo chegou a afirmar que “pessoas que acreditam que o único objetivo da existência humana é a diversão, é uma sociedade inferior ou decadente”.

E quando se pensa na arte como expressão, surgem reflexões como: tudo pode ser considerado arte? A escrita de um poema pode ser chamada de arte? Ou: tudo que evoca emoção pode ser considerado como ampliação da consciência emocional?

Principais desafios na cultura brasileira

Impossível mencionar arte sem tratar da cultura que abarca um conglomerado composto por conhecimento, crenças, arte, moral, lei, costumes e os hábitos adquiridos pela vivência em sociedade.

Dados apontam que as riquezas produzidas pela cultura cresceram de forma mais acelerada que o PIB (Produto Interno Bruto), entre 2012 e 2020, mais precisamente 78% em comparação com o PIB (55%).

Se por um lado, ainda que em um cenário aquém do esperado, não falta incentivos ligados à produção artística brasileira, por outro, a discussão se aprofunda na habilidade única do artista em expressar uma forma de arte autêntica, capaz de conectar o espectador com os aspectos mais avançados de uma época, sob uma perspectiva puramente humana, social e histórica.

Estamos vivendo uma grave crise artística em que, mesmo diante de tantas informações, não se tem nada de tão inspirador a ser dito.

O que o artista tem a dizer?

A arte é mais do que uma recreação banal com o poder de provocar o desligamento por algum instante da correria do dia a dia. Quantas vezes pessoalmente tive a sensação de ter perdido o meu tempo consumindo um conteúdo esteticamente bem feito, mas pouco relevante.

O que nos dias atuais pode ser dito? Que tipo de arte poderia ser tão relevante a ponto de provocar inspirações que evoquem mudança?

Uma sociedade que anda em derredor da banalidade pode produzir arte que não seja banal?

Se houvesse um grande palco livre de alcance mundial, o que você diria ao mundo e como o faria? Você falaria por meio da música, da literatura, do teatro, de uma escultura, etc.?

Talvez a crise comece pela crença de que ninguém se importa ou de que qualquer coisa que se tenha a dizer não seja relevante, até que seja dita.

O artista jamais saberá ao certo se a arte que produziu deixa de fato uma marca significativa, mas mesmo que tenha sido apenas inspiração ou que tenha servido como “esterco” para a “Arte que marca uma geração”, foi mais relevante do que poderia supor.

Como dizer ao mundo que ele não está de todo perdido ou como aproximar as pessoas da arte?

A crise na arte não consiste em ausência de movimentos ou de incentivos, mas no vazio, na ausência de significados, na ânsia por reproduzir aquilo que unicamente entretém, mas não alimenta.

O que se vivencia é um grande abismo, onde os artistas estão perdidos, girando e exaustos. Como se quebra essa maldição?