Documentário produzido por jovens do Fica Vivo! resgata história de comunidade de BH
A obra “Granja, o País do Funk” conta a história do estilo musical que influenciou gerações no bairro Granja de Freitas, na Zona Leste da capital mineira
A história da comunidade Granja de Freitas é um importante marco na história de Belo Horizonte, assim como na de vários moradores do local, que construíram sua vida nos conjuntos habitacionais próximos à mata da Baleia, quase na divisa com Sabará. E para lembrar dos mais de 20 anos do bairro, jovens da oficina Funk Consciente, do programa Fica Vivo!, resolveram contar essa história e a sua relação com o funk. O documentário produzido no ano passado, com apoio financeiro da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), está sendo exibido em vários locais da capital mineira e, nesta segunda-feira (23/5), a apresentação acontece na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O Programa de Controle de Homicídios – Fica Vivo! é executado pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e atua na prevenção e redução de homicídios de jovens de 12 a 24 anos. Uma das formas de se aproximar dos jovens é por meio das oficinas, que também buscam promover a diversidade, tanto no tocante ao público atendido, quanto aos aspectos culturais e sociais vinculados a essa modalidade de atendimento, segundo a diretora de Proteção da Juventude, da Sejusp, Michelle Gangana Duarte.
“Nesse sentido, ver uma produção tão importante e reconhecida no cenário da arte nos faz acreditar que estamos no caminho certo: de apostar no nosso público, na sua capacidade inventiva e de produção. E, mais do que isso, nos faz difundir algo que há muitos anos discutimos no programa, que é a ressignificação de territórios reconhecidos como lugares de violências, unicamente. Essa produção em uma oficina do FV! demonstra que o Granja é o país do funk, é o país do rap, do pagode, do samba, do sertanejo e de tudo aquilo que aquela comunidade sonhar e que o poder público apoiar”, afirma Michelle.
O objetivo era construir um material que proporcionasse orgulho e sentimento de pertencimento dos moradores da comunidade. A escolha do tema, captação das imagens, áudios e edição do material foi feita pelos jovens que participam da oficina Funk Consciente. No total, 20 adolescentes e jovens participaram da produção, que teve cinco meses de duração. Três dos jovens estiveram presentes em todos os momentos da produção: Dioguin Silva, Isaque Samuel e Marcos Paulo.
O documentário já foi exibido no tradicional Cine Santa Tereza; no próprio Granja de Freitas – primeira exibição; no Teatro Espanca e na Escola Estadual Engenheiro Padre Lopes. Esta semana ele será exibido no Centro de Referência à Juventude. Em junho a previsão é que o curta seja apresentado no Centro Socioeducativo Santa Clara, em Belo Horizonte.
Até o momento, a melhor exibição de todas foi para os moradores do Granja de Freitas, de acordo com o oficineiro Alex Black, coordenador do projeto. “A reação foi muito legal. Conseguimos unir os MCs novos e os antigos, e provocar na galera da comunidade um sentimento de identidade, de lutar pelo que é nosso. O documentário trouxe visibilidade para os artistas daqui. Para mim é bem gratificante contar essa história. O bairro está evoluindo e fazemos parte disso. Ao mesmo tempo queremos chamar atenção para a falta de lazer na comunidade e para o nosso potencial: temos muitas pessoas e coisas legais aqui”, conta Black.
Além de produzirem o documentário, os jovens tiveram aulas teóricas sobre patrimônio, ambiente e técnicas de audiovisual. Outro nome importante nessa construção é o da Júlia Braga, que ajudou os jovens na execução do curta. A produção, Granja, o País do Funk, conta a história do funk e da comunidade por meio do diálogo com cinco MCs: MC Deivin, MC Kall, MC Vitão, MC Vitinho e MC La Selva, além de dois DJs – DJ Edinho e DJ Max, todos ligados ao Encontro dos MCs, evento que acontecia no bairro Granja de Freitas. O filme mostra como se iniciou o Granja e as trajetórias desses artistas no universo do funk, suas inspirações e lembranças do Encontro dos MCs.
Oficina Funk Consciente
Antes uma ocupação irregular, após uma votação de orçamento participativo, o local foi escolhido para a construção de 146 unidades habitacionais, entre abril de 1991 e junho de 2001. Por muitos anos, o Granja de Freitas foi palco de batalhas de MCs e de tradicionais festas do ritmo. Tudo puxado por um MC, que além de organizar os eventos também era oficineiro do estilo musical no programa Fica Vivo!. Assim, cresceram juntos a atuação da oficina no bairro e o funk como meio de expressão e de lazer dos moradores. Atualmente, nos encontros semanais, os jovens aprendem sobre o ritmo, produção musical e audiovisual. Cerca de oito adolescentes frequentam as aulas com regularidade e muitos deles vislumbram uma carreira na música.
Para a analista do Fica Vivo! da Unidade de Prevenção à Criminalidade (UPC) Taquaril, que atende também o Alto Vera Cruz e o Granja de Freitas, Adriana Moraes, que acompanha as oficinas e também esteve presente na construção do documentário, ver o resultado foi de grande satisfação. “Foi um momento ímpar de tudo que já experimentei como analista do Fica Vivo!. Acompanhei de perto o resgate da potencialidade de cada um. Essa cultura do Funk no Granja partiu das oficinas do FV! em 2011, 2012, atravessou geração, teve uma função, e hoje se desdobrou na construção do documentário”, comemora Adriana.
Crédito fotos: Divulgação Ascom Sejusp