Equipe Fênix UFMG vence competição latino-americana de foguetemodelismo

Equipe Fênix UFMG vence competição latino-americana de foguetemodelismo

Torneio realizado no interior de São Paulo terminou com desempenho histórico do time formado por estudantes da Escola de Engenharia

Criada em 2018, a Fênix UFMG, equipe de foguetes e estudos astronáuticos criada e gerida por estudantes de cursos da Escola de Engenharia da Universidade, obteve, no último fim de semana, seu resultado mais expressivo em uma competição de foguetemodelismo. O time, composto de 25 alunos, a maior parte deles da graduação em Engenharia Aeroespacial, foi campeão da Latin American Space Challenge (Lasc), maior torneio da modalidade disputado no Brasil e a segunda principal competição experimental de engenharia de foguetes e satélites do mundo.

A edição deste ano foi realizada de 24 a 27 de agosto, em Tatuí, interior de São Paulo, e reuniu equipes de todo o Brasil, da América Latina e até de países de outros continentes, como Índia e China. As competições se dividem em várias categorias, definidas por distância e também pelo tipo de combustível utilizado (sólido, híbrido ou líquido, por exemplo).

O resultado da equipe, estreante na competição, deu-se na categoria Apogeu fixo de 1.000 metros, utilizando combustível sólido, na qual o foguete projetado pelas equipes participantes deve percorrer a distância de um quilômetro. O foguete da Fênix UFMG, batizado de Guará, percorreu a distância de 999,6 metros, ficando a apenas 40 centímetros da meta proposta pela categoria. Na competição, o Guará também tinha a missão de transportar e ejetar um satélite experimental produzido pela Czar Space, grupo de competição e pesquisa em pequenos satélites da UFMG. Além disso, ambos deveriam retornar em segurança ao solo, com o auxílio de paraquedas.

Ineditismo

A capitã da Fênix UFMG, Karen Beatriz Oliveira Alves, de 22 anos, explica que o resultado obtido pela equipe pode ser considerado como uma espécie de recorde. “Na história da competição, nenhuma equipe chegou tão próximo de um quilômetro como nós. Nosso foguete percorreu 999,6 metros de apogeu. Nenhuma equipe erra por 40 centímetros. Geralmente erram por 100, 200 metros e conquistam a premiação. Nós ficamos em uma posição praticamente imbatível nesse quesito”, comemora.

A falta de possibilidade de controle remoto sobre a vazão do combustível é o que torna o resultado ainda mais impressionante. A estudante Karen Beatriz explica que, por não ser possível qualquer controle durante o voo, a equipe precisa confiar nas simulações e nos testes feitos antes da competição.

 

“Se o foguete ultrapassar os 1.000 metros, não é possível acionar uma válvula para interromper a vazão. Também não conseguimos injetar combustível, caso ele não alcance a distância projetada. E ainda há diversas variáveis, como vento e fatores aerodinâmicos, envolvendo toda a estrutura do foguete. Às vezes, as condições não possibilitam que a equipe alcance a meta projetada. Felizmente, tivemos todas os fatores a nosso favor, tanto o projeto em si quanto as variáveis de clima no local e no dia do lançamento”, conta.

 

Todo o processo de preparação do Guará e da equipe para a Lasc 2023 durou cerca de um ano, incluindo o projeto e a construção do foguete, assim como todos os testes e simulações. “Conseguimos, pela primeira vez, testar o motor, equipamentos e sensores. Além disso, tivemos acesso a dados experimentais graças a um projeto que elaboramos: uma bancada de teste de motor, patrocinada pela Agência Espacial Brasileira. Esses dados nos deram mais garantias acerca do projeto”, afirma.

 

Desempenho de voo

 

A Fênix UFMG também venceu em uma categoria lançada nesta edição, denominada Flight dynamics, que avalia o melhor desempenho de voo. “Essa premiação foi conquistada pelo nosso apogeu, que ficou muito próximo da meta, e também pela nossa telemetria, o envio de dados do foguete para a base, que também foi muito bom. Fomos, assim, a equipe que teve, entre todas as categorias, a melhor dinâmica de voo da competição”, diz Karen Beatriz.

 

A líder da equipe destaca que o resultado é mais significativo ainda porque a atual formação da Fênix UFMG é completamente nova. “As 25 pessoas que formam a Fênix hoje e que participaram da competição nunca estiveram em um evento desse tipo, nem mesmo lançaram um foguete. A equipe passou por várias gestões e formações. Esta foi a nossa estreia na competição, o que torna o resultado ainda mais relevante. Eu estou muito satisfeita com os resultados, porque eles demonstraram certa resiliência de toda a equipe”, avalia.

 

Na UFMG, os estudantes contaram com apoio dos professores do Departamento de Engenharia Mecânica Cristiano Fiorilo de Melo, orientador da equipe, e Joel Laguárdia, do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da UFMG. “O professor Joel e a equipe foram bem solícitos em nos ajudar em tudo de que precisávamos. No galpão do CEA, também tivemos acesso a algumas ferramentas que contribuíram com o nosso projeto. Nós tivemos apoio também do professor Daniel Rezende, subchefe do Departamento de Engenharia Química, que disponibilizou um laboratório para que pudéssemos fazer nosso combustível, com supervisão. Isso foi um marco para a Fênix, que, pela primeira vez, pôde desenvolver o combustível na UFMG”, elenca.

 

Formação

 

Aluna do sétimo período do curso de Engenharia Aeroespacial, Karen Beatriz destaca, por fim, a importância de toda a experiência obtida no Lasc 2023, além do resultado histórico, para sua formação pessoal e profissional e também de toda a equipe da Missão Guará.

 

“Esse trabalho em equipe nos fez crescer muito como pessoas. Ele nos possibilitou acreditar no trabalho do outro, confiar no que o outro está fazendo. No aspecto profissional, nem se fala, porque a engenharia aeroespacial na UFMG está muito relacionada à aeronáutica, e nós, da astronáutica, muitas vezes sentimos falta de disciplinas que contemplem a área. Estar no Lasc foi muito bom, porque conseguimos pôr conhecimentos de astronáutica em prática. Acho que vamos evoluir bastante com esse aprendizado, pudemos ver funcionar algo que só vemos em partes nas salas de aula”, finaliza.

 

(Texto de Hugo Rafael, da Agência de Notícias UFMG)