HC-UFMG vai retomar transplantes de pulmão em Minas Gerais

HC-UFMG vai retomar transplantes de pulmão em Minas Gerais

Serviço vigorou de 1998 a 2014 no Hospital das Clínicas; além dos mineiros, serão beneficiados pacientes do Espírito Santo e do Centro-Oeste

Após nove anos de suspensão, as cirurgias de transplante de pulmão voltarão a ser realizadas em Minas Gerais. A notícia foi dada durante reunião ocorrida no Hospital João XXIII, na manhã desta quarta-feira, 27, data em que é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

Participaram do encontro a reitora Sandra Goulart Almeida, o superintendente do Hospital das Clínicas (HC), Alexandre Rodrigues, o presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Arthur Chioro, e o secretário de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, entre outras autoridades.

De 1998 a 2014, foram realizados 24 procedimentos de transplante de pulmão no estado. A partir de então, os pacientes mineiros passaram a ser cadastrados em listas de espera de outras unidades federativas.

bbAlexandre Rodrigues: chama acesa Foto: Foca Lisboa | UFMG

Demanda do SUS
Como lembrou Alexandre Rodrigues, a equipe do HC foi premiada pela persistência em tentar retomar a prestação do serviço de transplante de pulmão. “A chama foi mantida acesa, nunca desistimos. Especialmente nos últimos três anos, acionamos o Ministério da Saúde diversas vezes. Depois de muitas negativas, por motivos diversos, enfim conseguimos”, relatou. O superintendente enfatizou que a excelência do HC deve se justificar não somente como formador de profissionais, mas também — e especialmente — como agente que atende às demandas do SUS. “Temos desafios a superar nos próximos meses e um caminho importante a percorrer”, projetou, referindo-se à preparação da equipe para o reinício das operações.

sdArthur Chioro: desfinanciamento absurdo Foto: Foca Lisboa | UFMG

A visão a respeito do papel dos hospitais universitários alinha-se com a do presidente da Ebserh, Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde entre 2014 e 2015. “A ideia de que os hospitais universitários não teriam relação com o SUS e, portanto, deveriam se dedicar somente ao ensino e à pesquisa ganhou força desde o golpe de 2016 [materializado no impeachment de Dilma Rousseff]. É muito impressionante como, mesmo diante das dificuldades enfrentadas pela população brasileira, os hospitais universitários foram desfinanciados, como desdobramento da emenda do teto dos gastos [EC nº 95, de 2016], que forçou cortes nas políticas públicas de saúde”, argumentou.

Nas palavras da reitora Sandra Goulart Almeida, a ocasião é rica em significância tanto para o estado de Minas Gerais quanto para a Universidade. “Todos nós, que integramos a comunidade da UFMG, sentimos enorme orgulho pelo HC, já que temos um importante espaço de formação de pessoas e, ao mesmo tempo, somos ‘100% SUS’ no atendimento à população.”

dvfsFábio Baccheretti: famílias devem ser informadas da intenção do doador Foto: Foca Lisboa | UFMG

Conscientização e sensibilização
O secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, sublinhou a necessidade de ampliação da captação de órgãos. “É fundamental que informemos às nossas famílias que somos doadores. Atualmente, cerca de 40% das famílias recusam a doação. Também é preciso capacitar as equipes e reduzir o tempo de diagnóstico da morte encefálica”, enumerou. Baccheretti informou ainda que Minas Gerais passará a receber pacientes do Espírito Santo e da região Centro-Oeste.

No mesmo sentido, a presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Renata Ferreira, pontuou que, “além de sensibilizar as famílias dos doadores, é necessário mostrar o quanto somos eficientes na captação de órgãos”.

Em participação por vídeo, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Fisiologia, Margareth Dalcolmo, acrescentou que a qualificação dos profissionais da UFMG possibilita que, “efetivamente, seja racionalizado o transplante de pulmão, conforme a geografia complexa de um país continental como o Brasil”.

Segundo a representante da Organização Pan-Americana de Saúde, Socorro Gross, “o Brasil tem o sistema público de transplantes mais importante do mundo”. “Há muito tempo, [o país] é referência na rede ibero-americana. E Minas Gerais tem histórico de destaque devido à proporção de transplantes realizados, em relação à população”, revelou.

Campanha nacional
O lançamento de uma campanha nacional de doação de órgãos, de acordo com o Secretário Nacional de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Miranda, está previsto para esta quinta-feira, em Brasília. “Esse tipo de campanha havia sido proibido pelo Ministério da Saúde — o que é um crime contra a população. Uma portaria federal publicada pelo governo anterior prejudicou o financiamento para a maior parte dos serviços de transplante no Brasil. Tivemos que desmontar todos esses horrores”, denunciou.

O diretor do MG Transplantes, Omar Cançado, apresentou o balanço mais recente das atividades de captação de órgãos em Minas Gerais. Segundo ele, houve queda considerável no número de doações entre 2020 e 2021 — um efeito da pandemia de covid-19. “Durante o período, todo paciente com suspeita de doença pulmonar era automaticamente excluído do processo de doação. No ano passado, a situação começou a caminhar para a normalidade. A expectativa é que, ainda em 2023, voltemos ao patamar anterior à pandemia”, projetou.

Demanda de órgãos no estado
De 1992 a 2022, foram realizados 47.559 transplantes de tecidos e órgãos em Minas Gerais. Até agosto de 2023, ocorreram no estado 1.489 procedimentos, sendo 584 de córnea, 44 de escleras, 195 de medula óssea, 375 de rim com doador falecido, 105 de rim com doador vivo, 50 de coração, 5 de fígado conjugado com rim, 115 de fígado, 11 de rim conjugado com pâncreas e cinco de pâncreas.

Até o dia 5 de setembro, havia 6.404 pacientes ativos na lista de espera da Central Estadual de Transplantes – 3.228 de córnea, 2.992 de rim, 112 de fígado, 45 de rim conjugado com pâncreas, 21 de coração e seis de pâncreas.

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A reitora Sandra Goulart manifestou o orgulho da comunidade universitária pelo trabalho empreendido no HCFoto: Foca Lisboa | UFMG

Matheus Espíndola