Maternidade, uma construção
Professora de Psicologia da Una explica que ser mãe não é um dom inato
Neste ano, o Dia das Mães será comemorado no dia 12 de maio. Esta data em que homenageamos a figura familiar materna, também faz um convite para a reflexão: afinal, a maternidade é um papel inato e universal das mulheres? A pressão por uma figura materna perfeita, idealizada e inatingível, gera culpa, insegurança e esgotamento físico e mental, conforme explica Camila Fardin Grasselli, professora do curso de Psicologia da Una. “É uma cobrança não somente para a mãe perfeita, mas para o pai perfeito, para o corpo perfeito, para o profissional perfeito, para a família perfeita. São ideais que existem há muitas décadas e que continuam atuando sobre as pessoas”.
Mercado de trabalho
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílio (Pnad) apontam que o ano de 2023 fechou com um recorde histórico de ocupação feminina, totalizando 43.380.636 mulheres, à frente de 42.675.531 em 2022. Apesar dos avanços no mercado de trabalho, os desafios persistem. Além da desigualdade salarial, outra dificuldade é conseguir conciliar carreira e cuidados maternos. Gera estresse e exaustão essa sobrecarga de tarefas entre o trabalho doméstico, o cuidado com a família e os filhos e as responsabilidades profissionais e pessoais.
Camila afirma que não há uma receita única para dar conta dessa jornada dupla, às vezes tripla. “Essa estratégia vai passar muito mais pelo desejo das mulheres. Algumas delas vão optar por construir uma carreira. Há aquelas vão se satisfazer sendo mães. E outras ainda que vão equilibrar trabalho e maternidade. O interessante é pontuar que todas, de certa forma, têm escolhas certas de acordo com o que conseguem/desejam fazer”.
Críticas e julgamentos
Outro obstáculo é a cobrança por oferecer aos filhos a melhor educação possível, o que gera ansiedade e frustração. “Como se houvesse a possibilidade de ser a mãe perfeita, existe também a exigência para dar a educação ideal para as crianças e adolescentes. E não apenas a escolha das escolas, mas também de uma série de atividades extra classe”, ressalta Camila.
A psicóloga salienta ainda a pressão sobre a educação que é dada em casa. “Também há uma grande demanda relacionada à transmissão dos valores e das regras sociais. São elementos que têm tudo para dar errado, porque a criança não é um quadro em branco onde podemos escrever o que queremos, mas sim um ser humano em formação”.
O julgamento constante de familiares, amigos e até mesmo de estranhos sobre as escolhas maternas gera insegurança e sofrimento. De acordo com a professora, autoconhecimento é a melhor estratégia para lidar com essa situação. “Conhecer suas riquezas e suas fraquezas. É só assim que uma pessoa consegue se blindar em relação ao mundo externo”.
Para suportar tudo isso, é importante que as mães mantenham o cuidado com a saúde mental. “Se cercar de exemplos positivos e inspiradores, ter pessoas e momentos para se abrir e, por vezes, se queixar sem ser julgada”, enfatiza Camila.
A docente ressalta que ser mãe não é um fato simplesmente biológico. “Todos os bebês precisam ser ‘adotados’ quando nascem, no desejo da família de ter um filho. Nesse sentido, a maternidade nos seres humanos é uma construção diária”.
Foto em destaque: Bruno Roque