No Dia Internacional contra a LGBTFobia, UNAIDS e UNESCO lançam ensaio fotográfico de travestis e mulheres trans
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (UNAIDS) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) lançam no Dia Internacional contra a LGBTfobia, 17 de maio, um ensaio fotográfico feito pelo premiado fotógrafo americano Sean Black com 24 travestis e mulheres trans de São Paulo. O ensaio é parte do Projeto FRESH, lançado em 2021 pelo UNAIDS, em parceria com a Casa Florescer, reconhecido centro de acolhimento de travestis e mulheres trans.
A história de vida de cada uma das mulheres participantes do Projeto FRESH reflete o impacto das desigualdades, do estigma e da discriminação, que forçaram algumas delas a sair de casa contra a vontade, a recorrer a serviços sexuais para se manter, a não conseguir empregos estáveis, a fazer uso de drogas ou sofrer diversos tipos de violências. Ao buscar acolhimento na Casa Florescer, estas mulheres iniciam um ciclo de autodescoberta e empoderamento, construindo uma trajetória que as levem a sair das situações de vulnerabilidade em que se encontravam e a fazer frente ao estigma e discriminação.
O Projeto FRESH usou o recurso do Manejo de Contingências, uma abordagem terapêutica que usa reforço positivo para estimular mudanças de comportamento. O objetivo foi levar as mulheres trans participantes a aprofundar a reflexão sobre o autocuidado, a importância de cuidar da saúde e de aderir às ferramentas de prevenção combinada do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), a fim de obterem um controle de seus corpos e de suas vidas. O reconhecimento das mulheres trans que participaram do projeto foi a participação de um ensaio fotográfico liderado pelo fotógrafo norte-americano Sean Black, especializado no registro da população LGBTQIA+.
Sasha Santos, uma das mulheres trans participantes do Projeto FRESH, fala da emoção quando viu o resultado do seu ensaio fotográfico: “Em nossas vidas são tantas coisas ruins que a gente passa e minha foto do ensaio me dá a certeza de que sou capaz de muitas coisas. Acho que isso é o essencial para a nossa vida: a gente se amar. O meu sonho, agora, é fazer a minha faculdade, ter minha própria casa e ter meus dois filhos. Esse é o meu sonho.”
Rihanna Borges é outra das mulheres trans do Projeto FRESH. Ela trabalha ajudando e acompanhando outras mulheres trans no cuidado com a saúde e estimulando a adesão à prevenção combinada do HIV. “Acho incrível o papel que hoje eu faço, de trabalhar com outras manas trazendo a elas a importância do autocuidado e da prevenção combinada. Meu sonho é que um dia este acesso que eu tive, todas as mulheres trans também possam ter. Que a sociedade possa ver a gente mais livres, mais soltas e que muito mais mulheres trans possam se empoderar, sair dessa invisibilidade e dizer “hoje eu sou alguém”.
Estigma e discriminação
O Dia Internacional contra a LGBTFobia surgiu como referência à decisão da OMS que, em 1990, deixou de considerar a homossexualidade como uma doença é uma oportunidade para refletir e agir contra o estigma que afeta cotidianamente as pessoas LGBTQIA+. As populações em maior vulnerabilidade, especialmente as travestis e mulheres trans, sofrem os efeitos da discriminação de maneira ainda mais aguda, traduzida em violência física e psicológica e na dificuldade de acesso a serviços de saúde e a oportunidades de emprego.
O estigma, o preconceito e a discriminação tornam o Brasil um dos países mais perigosos para a população LGBTQIA+. Relatório do Grupo Gay da Bahia, que reúne dados públicos de todo o país, mostra que 300 pessoas LGBTQIA+ sofreram morte violenta no Brasil em 2021, 8% a mais do que no ano anterior.
Neste contexto, a transfobia traz impactos mais fortes sobre travestis e mulheres trans. O Brasil é, pelo 13º ano consecutivo, o país onde mais pessoas trans foram assassinadas. Relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) indica que em 2021 foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no país, a grande maioria (135) tiveram como vítimas travestis e mulheres transexuais e cinco vitimaram homens trans e pessoas transmasculinas.
No mundo, travestis e mulheres trans têm o risco de infecção pelo HIV 12 vezes maior do que em relação à média verificada entre pessoas com vida sexualmente ativa. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam uma prevalência do HIV superior a 30% entre travestis e mulheres trans, enquanto na população em geral esta prevalência é de 0,4%.