O capítulo final da Rodovia da Morte
Conheça a história e a relevância na vida da população do trecho da BR-381/MG que vai a leilão hoje. Rodovia corta noroeste do estado mineiro, ligando de Belo Horizonte a Governador Valadares
Hoje a BR-381 representa para a gente, que mora aqui perto, medo. Não é uma viagem tranquila. É uma viagem tensa, desde a origem ao destino. A gente fica tenso não apenas por nós, mas também porque não sabemos como outros motoristas vêm. E todos aqui na cidade lidam com esse medo. Mesmo os experientes na estrada. Então a gente quer essa duplicação e essa segurança “, avaliou a técnica de segurança no trabalho Andreia Cristina Lourdes, que vive em João Monlevade, a 115 km de Belo horizonte.
Ela viveu o drama da Rodovia da Morte, apelido dado à BR-381/MG, na própria família. Em um acidente de carro, perdeu dois primos. A esposa de um deles ficou em coma e apenas o bebê sobreviveu sem sequelas à colisão.
Um traçado altamente sinuoso em áreas de risco geológico, pistas simples na maioria do percurso e mesmo de acostamento em algumas partes, baixa manutenção da estrutura e ausência de iluminação e sinalização são alguns dos aspectos que contribuem para a BR-381/MG, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, ser conhecida como a rodovia da morte. Números da Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicam que, entre os anos de 2018 e 2023, foram registrados 3.960 acidentes, 420 deles com mortes, ao longo do trecho.
A rodovia foi criada em 1952, durante o governo de Getúlio Vargas. A pavimentação de boa parte do trecho se estendeu até 1960, sendo inaugurada por Juscelino Kubitschek. Após crescimento de acidentes ao longo da década de 1980, a rodovia chegou a ser compartilhada com o estado mineiro em 1996.
Para poder finalmente dirigir tranquilamente na BR-381/MG, a Andreia deposita esperanças nas obras da rodovia com a concessão. Principalmente na duplicação. “Com essas duplicações e essas obras, acredito que a gente vai ter uma estrada segura. Lógico que a prudência das pessoas também conta. Mas tudo conta. A prudência de um lado e a estrada segura em boas condições”, conta. “É muito triste o que a gente vê. A esposa do meu primo hoje está inconsciente e não sabe nem mesmo que o marido morreu. Não quero que ninguém passe por isso.”
Devido ao alto número de acidentes, moradores da cidade de João Monlevade criaram um grupo de voluntários para ajudar nos resgates e atendimentos a ocorrências na BR-381, o Serviço Voluntário de Resgate (Sevor). Andreia atua na equipe como socorrista.
Também voluntária no grupo, Janaína Ubaldo é outra vítima das más condições da BR-381/MG. “Eu tinha saído para prestar um socorro junto com a equipe e estava voltando com duas vítimas de um acidente na ambulância quando um carro veio na contramão. Uma das vítimas que estava sendo socorrida faleceu. Na época, eu estava grávida. Ninguém sabia ainda. Foi assustador”, lembra.
Janaína defende uma ação urgente para adequação do traçado às necessidades atuais. “Todo mundo aqui na cidade conhece alguém que já foi vítima ou mesmo passou por um acidente. A gente espera muito por uma mudança, para que a gente deixe de ter medo de sair ou chegar na cidade usando esta estrada.”
Detalhes da Concessão
Com a concessão do trecho, serão realizadas 51 mudanças no traçado da BR-381, de Belo Horizonte a Governador Valadares. A previsão é de R$9,34 bilhões de investimentos em 296,32 quilômetros da estrada. A concessão permitirá a duplicação de 106 quilômetros de rodovia ao longo de 13 cidades. A BR-381/MG é um importante corredor logístico e de escoamento de produtos industriais. Atravessa o Vale do Aço, no interior de Minas Gerais, além de interligar os estados de Minas, São Paulo e Espírito Santo, sendo marcada pelo intenso fluxo de caminhões e ônibus.
O projeto de readequação da BR prevê, ainda, 83 quilômetros de faixas adicionais, 51 correções de traçado, áreas de escape, Pontos de Parada e Descanso (PPD) para caminhoneiros e 23 passarelas para a travessia de pedestres. Também serão instalados pontos de atendimento ao usuário com o Centro de Controle de Operações (CCO), áreas de escape e Bases do Serviço Operacional (BSO) para apoio das equipes de atendimento médico de emergência, mecânico e demais incidentes na via.
Outro aspecto crucial foi a decisão do Ministério dos Transportes de assumir as obras de duplicação de 31,4 quilômetros, no trecho que vai da capital Belo Horizonte a Caeté, na região metropolitana. Esta região é alvo de acordos judiciais para remoção de famílias que ainda vivem às margens da faixa de domínio da estrada.
São histórias como a de Andreia e Janaína que o Ministério dos Transportes quer evitar que se repitam, fortalecendo a parceria com a iniciativa privada para assegurar os mecanismos e recursos necessários para o volume de obras que a BR-381 precisa.
Assessoria Especial de Comunicação
Ministério dos Transportes