Pessoas LGB+ têm mais que o dobro de chance de sofrer qualquer tipo violência, constata estudo inédito da UFMG

Pessoas LGB+ têm mais que o dobro de chance de sofrer qualquer tipo violência, constata estudo inédito da UFMG

Estudo recém-publicado por pesquisadores da UFMG, em parceria com Ministério da Saúde e Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística (IBGE), constatou que  lésbicas, gays, bissexuais e outras minorias sexuais (LGB+) no Brasil têm  mais  que  o  dobro  de  chances  de  sofrer violência psicológica, física e sexual  em  relação  às pessoas  que  se auto identificaram heterossexuais.

A pesquisa, que utilizou base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, contou com a participação de 88.531 pessoas com 18 anos ou mais residentes no Brasil. As pessoas LGB+ tiveram 2,52 vezes mais chances de sofrer violência que as heterossexuais. Os homens que se declararam LGB+ tiveram 2,69 vezes mais  chances  de  sofrer  violência  que  os heterossexuais e as mulheres LGB+ tiveram 2,40 vezes mais chances que  as  heterossexuais, no período de 12 meses anterior à pesquisa.

A coordenadora do estudo e professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta relata que devido ao fato de se diferirem do esperado enquanto padrão estabelecido, essa população encara discriminação, vulnerabilidades  e invisibilidade, sofrendo o chamado preconceito contra a diversidade sexual. “Uma das consequências desse  preconceito  é  a  maior  susceptibilidade  dessa população à violência. A violência é um problema de Saúde Pública e seu enfrentamento faz parte dos Objetivos  do  Desenvolvimento  Sustentável  da  Agenda  2030. Pessoas expostas   à   violência   podem   apresentar   desfechos   desfavoráveis em saúde, tanto psicológicos como físicos e sexuais. Dentre as principais consequências de atos violentos, pode-se  destacar  a  depressão,  transtorno  do   estresse   pós-traumático, fraturas, traumatismos cranianos, além de contaminação por infecções sexualmente transmissíveis e gravidez não desejada”, enfatizou.

Ela destaca, ainda, que essa investigação sobre a orientação sexual de brasileiros adultos foi incluída pela primeira vez na PNS  e que levanta múltiplas possibilidades de análises quanto à saúde e os fatores de risco e proteção da população LGB+, dentre elas, a violência.

Conforme o estudo, as pessoas LGB+ têm três vezes mais chances de serem vítimas de violência física, 14,7% informaram terem sofrido algum tipo desta violência, entre os heterossexuais, a parcela foi de 3,82%.  No que diz respeito à violência sexual, a possibilidade de pessoas LGB+ passarem por esse tipo de violência é quase cinco vezes maior (4,86%) que a de heterossexuais (0,68%). Dentre muitas questões que envolvem essa situação, uma delas é a ocorrência de “estupro corretivo”, em que pessoas não-heterossexuais  sofrem  abusos  em que  a  intencionalidade  do  agressor  é  controlar  o comportamento social e/ou sexual da vítima. Já a violência psicológica, mais frequente que os outros dois tipos, atingiu 40,03% dos entrevistados LGB+ e 16,73% da população heterossexual como um todo.

Em todos  os  subtipos  de  violência,  as  maiores  prevalências  ocorreram  entre mulheres LGB+ (psicológica 40,53%); (física 15,84); (sexual 5,50%) e as menores prevalências foram entre homens  heterossexuais  (psicológica 15,33%);  (física  3,71%); (sexual 0,34). “Esse achado demonstra que existe um aumento da vivência de violência a partir do acúmulo de vulnerabilidades sociais que as pessoas experienciam. Mulheres lésbicas e bissexuais sofrem com uma dupla discriminação: sexismo e preconceito contra a diversidade sexual”, explica.

Informação subnotificada

A pesquisa constatou que o percentual  de  pessoas  que  se  recusaram  a  responder  à  pergunta  sobre orientação  sexual  foi de 2,28%, superando  o  de  pessoas  que  se  autoidentificaram LGB+ (1,89%).  “Esse  fato demonstra que a questão da diversidade sexual é estigmatizante no Brasil. A população LGB+ sofre historicamente com preconceitos e discriminações de cunho religioso, moral e  até  mesmo  de  assistência  à  saúde. Dessa  forma,  muitas  vezes  as  pessoas  tentam esconder sua orientação dissidente e a recusa a responder à questão pode ser uma forma de se proteger”, relata.

 “A professora Deborah salientou que o estudo sobre a violência tem grande relevância no contexto da população LGB+, uma vez que permite compreender a complexidade da vulnerabilidade a que este grupo está exposto. “Assim, conhecer as características desse agravo favorece a implementação  e  fortalecimento  de Políticas Públicas  que  visem  o  enfrentamento ao preconceito contra a diversidade sexual e seja possível garantir os direitos”, conclui.

A equipe da pesquisa é formada também pelas doutorandas do Programa  de  Pós-Graduação  em  Saúde  Pública da Faculdade  de  Medicina da UFMG Nádia  Machado  de  Vasconcelos e Isabella  Vitral  Pinto,  a aluna de pós-doutorado em Enfermagem Gisele Nepomuceno de Andrade, Adauto Martins Soares Filho, do Departamento de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis, Ministério  da  Saúde  e Cimar  Azeredo  Pereira, do Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística.

Link do estudo: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/5249/10181