TRADIÇÃO, CULINÁRIA E UNIÃO. Comunidade dos Arturos promove Festa da Abolição e exalta suas raízes através da música e da culinária

TRADIÇÃO, CULINÁRIA E UNIÃO. Comunidade dos Arturos promove Festa da Abolição e exalta suas raízes através da música e da culinária
Como reza a tradição e o respeito aos antepassados, a Comunidade Quilombola dos Arturos promoveu no domingo (8/5), a Festa da Abolição. A cerimônia marca os 134 anos da oficialização do fim da escravidão no Brasil e exalta a memória, a história e a luta do povo negro contra séculos de exploração.

Também conhecida como Festa de Maio e Reinaidinho, a celebração contou com as apresentações das guardas de Congo e Moçambique, que levaram às ruas de Contagem, na região da Sede, muita fé, música e ancestralidade. Elemento importante na cultura dos Arturos, a culinária também esteve presente no cortejo, com broas, biscoitos e rosquinhas, carregadas em cestas por intérpretes de escravizados e escravizadas.

Para a comunidade, o alimento é sagrado e seus diversos preparos seguem a tradição de família, passada dos mais velhos para os mais novos. Desde os tempos de Artur Camilo Silvério, fundador do quilombo, os Arturos veem na culinária uma maneira de promover a união entre as famílias e com os visitantes.

“A comunidade é essencialmente católica, mas temos membros de outras religiões. E é na cozinha onde todos se encontram, independente do credo. O coração da comunidade é a cozinha. Onde nos unimos para cozinhar com amor para nossas famílias e convidados. Aqui, todo mundo é bem-vindo”, afirmou a mestra da cozinha Aparecida do Nascimento Luz, a Cida.

A cozinha é também local de encontro com as boas memórias. A mestra Maria Madalena da Cruz, a Miria, de 78 anos, recorda seus tempos de criança. Quando a matriarca já falecida, a tia Linduca, chegava à janela de casa e pelo cheiro vindo do forno de cupim sabia dizer se os quitutes estavam prontos. “Tia Linduca vinha na janela, sentia o cheiro e falava se estávamos fazendo o serviço direito. Da janela ela avisava: menina, olha esse biscoito que logo vai queimar”, lembrou.

Os anos passaram, a cozinha mudou um pouco, mas a tradição nas receitas permanece praticamente intacta. As mestras produzem todas as quitandas e pratos típicos, presentes nas festas realizadas na comunidade. O preparo mescla o tradicional à tecnologia, com assados no forno de barro e no forno a gás.

Para a Festa da Abolição foram preparadas pelas mestras cerca de três mil refeições, servidas a participantes e convidados. Além do tradicional café da manhã, com roscas, biscoitos de polvilho, papo ovo e caxambu.

“Nesta semana da festa, acontece de tudo. Parte da comunidade trabalha com os enfeites, limpeza das ruas e calçadas, pinturas, etc. Todo mundo se envolve em algo da logística do evento. Na cozinha, também tem gente da família toda. Trabalhamos na quarta, quinta e sexta-feira na produção do que será servido no café. No sábado, começamos o preparo do almoço, com a limpeza das carnes, que neste ano substituímos pelo frango”, contou Cida, que é técnica de laboratório no Hospital João XXIII e tira férias para ajudar as tias na cozinha.

“Faz parte do meu sangue e da minha história, quero manter e preservar nossas tradições enquanto eu viver. O conhecimento que as mestras têm e dividem conosco faz toda a diferença. Elas nos ajudam nas receitas tradicionais e nós, aos poucos, trazemos algumas novidades e tecnologias para facilitar. Esta é a primeira vez que usamos o forno a gás, por exemplo. Com o tradicional e a tecnologia aliados, conseguimos dar conta de toda a produção sem perder a qualidade conhecida por todos há décadas”, destacou.

Além de Cida e Miria, a cozinha dos Arturos tem como mestras: Maria Aparecida Silva Vieira, a Lia; Maria Inês Lima Dias; Andrea Aparecida Carlos; e Neuza Maria dos Santos Silva.

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Fotos: Janine Moraes
Autor:Yuri Soares