VÍCIO EM CIGARRO ACENDE ALERTA TAMBÉM PARA O USO DE VAPES
Com pouca fiscalização sobre o uso e comercialização dos cigarros eletrônicos no país, o número de usuários cresce preocupando médicos
O combate ao tabagismo, vício em cigarro, traz uma nova preocupação dentre as autoridades de saúde no mundo todo: os chamados vapes ou cigarros eletrônicos. De acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, a média histórica aponta uma queda no número de adultos que fumam, registrando em 2021, que 9,1% dos brasileiros fumam, sendo a prevalência de 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres. Já o uso do vape foi na contramão dessa média. O relatório de 2022 do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), registou quase 20% dos jovens brasileiros, faixa etária de 18 a 24 anos, como usuários do dispositivo. O aumento tem sido visto com bastante preocupação, pois esses cigarros eletrônicos são utilizados de forma desmedida, também causam dependência e, por consequência, danos à saúde. Além disso, apesar da comercialização ser proibida no Brasil, a fiscalização é deficitária e o produto é encontrado facilmente no comércio.
MSC, 38 anos, fez uso do cigarro eletrônico por alguns meses e conta que passou a sentir falta de ar após o uso prolongado do dispositivo. “Eu fumava cigarro de palha, mas menos do que o cigarro eletrônico, por ser mais forte. Com a mudança, eu passei a fumar mais”, confessa. Tanto o produto quanto juicer, que é a nicotina com sabor, foram comprados na Internet. “Recebi sem qualquer problema em minha casa e passei a usá-lo com maior frequência e em todos os lugares”, declara. Após 4 meses de uso, MSC passou a sentir uma leve falta de ar. Como já pensava em parar, decidiu por descartar o cigarro e os líquidos. “Lendo sobre o assunto, vi uma notícia pessoas relatando sérios problemas de saúde por conta do vape. Aquilo me assuntou e decidi pôr fim ao uso, apesar de que, de vez em quando, eu ainda usar o cigarro de palha”, explica. Os casos lidos por MSC nos jornais têm sido cada vez mais frequentes. Um deles foi nos EUA, com o registro de um técnico de enfermagem que perdeu parte do pulmão devido ao uso excessivo do cigarro eletrônico.
Independente se cigarro normal ou vape, parar de fumar pode ser um desafio considerado impossível para muitas pessoas devido à natureza viciante da nicotina. De acordo com o pneumologista e médico cooperado da Unimed-BH, Silvio Musman, são diversos os fatores que contribuem para essa dificuldade. “As causas mais conhecidas para a adicção são a dependência física e psicológica e a pressão social. Sobre a dependência física, a nicotina é a vilã, já que é uma substância altamente viciante”, detalha o especialista. De acordo com ele, quando alguém fuma regularmente, o corpo se acostuma com a presença da nicotina e se torna dependente dela. Já quando tenta parar, pode experimentar sintomas de abstinência, como irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, aumento do apetite e intensa vontade de fumar. “Hábitos que associamos ao cigarro, como fumar após o almoço, ou quando tomamos café, descrevem a dependência psicológica. São gatilhos para que queiramos fumar”, detalha. O médico ainda relata sobre a pressão social, seja por conta do convívio com pessoas que fumam ou as pausas no trabalho para “pitar”.
Prática de esporte como aliada
Luciene Aparecida Ferreira Batista, empresária, de 49 anos, conseguiu, depois de muitas idas e vindas, cessar o tabagismo após começar a correr. “Iniciei a prática em 2015, quando ainda fumava. Via que o vício não me permitia evoluir no esporte, tinha dificuldade para respirar e cansaço físico”, lembra Luciene. Ela, que fumava desde os 17 anos, parou durante as duas gestações, tentou largar o cigarro por diversas outras vezes, mas, por conta da ansiedade, um dos sintomas da abstinência, voltava a fumar. “Eu comecei por conta de amigos que fumavam, senti uma pressão da convivência com eles”, conta. Hoje, por ter parado de fumar e investir na corrida, a empresária conta que foram inúmeros os benefícios: “Eu ganhei condicionamento físico, melhorei minha saúde e, ainda, economizei bastante, já que o maço de cigarro não é barato e compramos com frequência”, relata. Ela explica que foi um processo difícil parar de fumar, mas que hoje ela vê que fez uma das melhores escolhas, tanto para ela, quanto para a família.
Vício que causa doenças
Musman lista quais são as doenças relacionadas ao tabagismo e alerta que os fumantes passivos, que convivem com quem fuma ativamente, também está sujeito a sofrer consequências. “O tabagismo é uma doença que contribui para o desenvolvimento de canceres, principalmente que acometem os pulmões, traqueia, boca, laringe, faringe e estômago. Também podem ser o gatilho para leucemia mielóide aguda e tumores na bexiga, no pâncreas, no fígado, dentre outros”.
O médico explica que a fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente, contém em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala. “A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode acarretar desde reações alérgicas em curto período, até infarto agudo do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica em adultos expostos por longos períodos”, alerta.
Crianças e adolescente expostos ao vício
As crianças fumantes passivas, de acordo com Musman, apresentam uma chance maior de contrair problemas respiratórios em relação as que os familiares não fumam. “Além disso, quanto maior o número de fumantes no domicílio, maior o percentual de infecções respiratórias, nas crianças que vivem com fumantes”, conta o pneumologista. O médico orienta que é fundamental que os adultos não fumem em locais onde haja crianças, já que o seu organismo ainda se encontra em desenvolvimento e as menores serem mais vulneráveis aos efeitos da exposição.
Recentemente, o Governo Estadual declarou guerra à comercialização dos vapes e cigarros por menores de 18 anos no entorno de escolas, já que, por lei, a venda de qualquer tipo é proibida no Brasil.
Musman acredita que muitos adolescentes, com o objetivo de conquistar espaço na sociedade e de satisfazer a necessidade de pertencer e ser aceito pelo grupo, acabam fazendo escolhas equivocadas que podem inclusive prejudicar a própria saúde. “O cigarro e o álcool são drogas lícitas que fazem tão mal quanto as drogas ilícitas. O uso de produtos derivados de tabaco e, consequentemente, a dependência à nicotina, que se estabelece no jovem consumidor, podem favorecer a aquisição de outros comportamentos pouco ou menos saudáveis. A utilização da nicotina é considerada por muitos estudiosos como sendo a “porta de entrada” para o uso de drogas ilícitas”, conclui o especialista.
Grupo de Cessação ao Tabagismo auxilia clientes da Unimed-BH
Os planos de saúde precisam incluir em seu rol de serviços grupos de apoio aos clientes para a cessação do tabagismo. Na Unimed-BH, o Grupo de Cessação ao Tabagismo oferta equipe multidisciplinar formada por médicos e terapeutas, nas modalidades presencial, no Centro de promoção da Saúde do Santa Efigênia e online (surgida durante a pandemia). O serviço aborda, além do atendimento médico, comportamentos, pensamentos e sentimentos importantes para ajudar o fumante a deixar de fumar. Outro ponto relevante é o acompanhamento médico individual concomitante com o programa para investigação do estado de saúde geral e possibilidade de analisar o início de medicações que auxiliam na cessação de acordo com cada caso.
O cliente Unimed-BH pode realizar a inscrição para o Grupo de Cessação ao Tabagismo, através do telefone 4020-4020 ou por indicação do médico de referência.